sexta-feira, 14 de outubro de 2011

ENTENDA A NOVA ORTOGRAFIA


 E o fato é simplesmente um: ninguém gosta dela, muitos discordam dela, outros sequer a admitem como acréscimo ou evolução, mas tão simplesmente como um grande e desnecessário quiprocó no universo das letras.
Gostando ou não, o período de convivência entre a norma antiga e as novas regras ortográficas chega ao fim no próximo ano e, como você bem deve saber, está mais do que na hora de ficar por dentro do assunto e, mesmo relutando, tentar entender e colocar em prática as mudanças.
Para ajudá-los nessa ingrata e difícil tarefa, aqui vão alguns sempre bem-vindos (palavra que continua sendo escrita assim, com hífen!) esclarecimentos.

O QUE É O NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA DA LÍNGUA PORTUGUESA?

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi elaborado há 18 anos e só agora sai do papel para ser adotado a partir do ano que vem. O objetivo dessa reforma é sincronizar a ortografia de todos os países que falam português, acabando com as diferenças existentes entre eles.

Esse acordo atinge todos os países da Comunidade de de Países de Língua portuguesa, e já foi ratificado por Brasil, Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Os demais países que ainda não ratificaram o acordo, na teoria, não fazem muita diferença e serão obrigados a usar o nova ortografia, uma vez que basta a assinatura de três integrantes da comunidade para se adotar uma mudança.

No Brasil, a partir de 2009, será adotada a nova ortografia e, entre 2010 e 2012, será o período de transição, onde tanto a ortografia antiga quanto a nova serão aceitas e, a partir de 2012, somente a nova ortografia será aceita.

O QUE MUDA NO BRASIL?

No Brasil, somente 0,6% (aprox) das palavras serão afetadas. Veja abaixo as mudanças:

TREMA
Deixará de existir em todas as palavras (ex: lingüiça será escrito como “linguiça”), com exceção para nome próprios

HÍFEN
Não será mais usado nos seguintes casos:
■Quando o primeiro elemento termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente (Ex: extra-escolar será escrito como “extraescolar”);
■ Quando o segundo elemento começar com r ou s. Nesse caso, a primeira letra do segundo elemento deverá ser duplicada (Ex: anti-social e contra-regra serão escritos como “antissocial” e “contrarregra”);

Outra regra para o hífen é a de incluí-lo onde antes não existia, nos casos em que o primeiro elemento finalizar com a mesma vogal que começa o segundo elemento (ex: microondas e antiinflamatório serão escritos como “micro-ondas” e “anti-inflamatório”.)

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais o acento para diferenciar:
■“pêra” (substantivo - fruta) e “pera” (preposição arcaica)
■“péla” (flexão do verbo pelar) de “pela” (combinação da preposição com o artigo)
■“pára” de “para” (preposição)
■“pêlo” de “pelo” (combinação da preposição com o artigo)“pólo” (substantivo) de “polo” (combinação antiga e popular de “por” e “lo”)

ACENTO CIRCUNFLEXO
Deixará de existir em:
■palavras que terminam com hiato “oo” (Ex: vôo e enjôo serão escritos como “voo” e “enjoo”)
■terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos dar, ler, crer e ver (ex: Lêem, vêem, crêem e dêem serão escritos como “leem”, “veem”, “creem” e “deem”)

ACENTO AGUDO
■Será abolido em palavras terminadas com “eia” e “oia” (ex: idéia e jibóia serão escritos como “ideia” e “jiboia”.
■Nas palavras paroxítonas, com “i” e “u” tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: “feiúra” e “baiúca” passam a ser grafadas “feiura” e “baiuca
■Nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i”. Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem.

ALFABETO
O alfabeto agora contará com as letras “k”, “w” e “y”, somando um total de 26 letras

DUPLA GRAFIA

Apesar de ser um acordo entre os países que falam português, essa reforma ainda permitirá a dupla grafia de palavras que são pronunciadas com entonação diferente em diferentes países.
No Brasil, por exemplo, fenômeno se escreve com acento circunflexo, enquanto em Portugal se usa o acento agudo (fenómeno), e além de escrita de forma diferente é também pronunciada de forma diferente. Em casos como esses, serão aceitas ambas as grafias.

GUIA DA NOVA ORTOGRAFIA

Você pode baixar um guia completo com as novas regras ortográficas, gratuitamente, clicando AQUI.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

FIGURAS DE LINGUAGEM

As figuras de linguagem são o colorido e o artístico da nossa comunicação!

 E os pedidos foram tantos que, reconheço, eu já deveria ter postado algo, aqui, sobre o assunto.
De qualquer forma, segue o resumão sobre as FIGURAS DE LINGUAGEM para ajudar a todos vocês que se preparam para a prova do Enem deste ano! (Tá chegando a hora, heim?! Força total nessa etapa final de sua preparação!)

FIGURAS DE LINGUAGEM

Segundo Mauro Ferreira, a importância em reconhecer figuras de linguagem está no fato de que tal conhecimento, além de auxiliar a compreender melhor os textos literários, deixa-nos mais sensíveis à beleza da linguagem e ao significado simbólico das palavras e dos textos.
Mas o que são figuras de linguagem?
Acompanhe conosco uma breve definição:

Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem, tornando-a mais rica e artisticamente elaborada, demonstrando um conhecimento aguçado dos recursos comunicativos da língua.

METÁFORA

É uma comparação subentendida. A metáfora é uma das figuras de linguagem mais empregadas e, justamente por isso, convém conhecê-la bem e identificar suas ocorrências. Quando nos valemos de uma metáfora, estamos interessados em fazer uma descrição inusitada de alguma coisa ou de alguém, por intermédio de uma comparação que fica apenas subentendida no contexto enunciativo. Repare nos exemplos:

Dois diamantes brilhavam no rosto da bela menina. (diamantes = olhos da menina)
Adalgiza é um docinho! (docinho = perfil gentil e agradável da pessoa em questão)
Essa rua é um verdadeiro deserto. (deserto = característica associada à rua)

COMPARAÇÃO

Como o próprio nome denuncia, há a comparação quando explicitamente comparamos (por meio de marcadores textuais) dois elementos dentro de uma sentença. Observe os exemplos abaixo:

O meu coração está igual a um céu cinzento.
O carro dele é rápido como um avião.

Repare que, nos dois casos, os marcadores textuais (em vermelho) se encarregam de estabelecer, oficialmente, a situação comparativa entre os termos.

Lembre-se: A METÁFORA é uma comparação implícita, enquanto a COMPARAÇÃO é uma comparação explícita!

PROSOPOPEIA

É uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la de PERSONIFICAÇÃO.

O dia sorria com muito entusiasmo para os moradores da pequena aldeia.
O velho Ipê amarelo parecia acenar-lhe, em despedida.

SINESTESIA

Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes. Quando há sinestesia, unimos impressões provenientes de vários órgãos diferentes do sentido para descrever alguma coisa. Observe:

Raquel tinha um semblante amargo, áspero.
Sentia-se, no ar, uma fragrância doce, aveludada.

CATACRESE

É uma metáfora desgastada, tão usual que já não percebemos. Assim, a catacrese é o emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo próprio.

O menino quebrou o braço da poltrona.
A manga da camisa rasgou.

METONÍMIA

É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empregamos:

- O autor pela obra.

Li Clarice Lispector dezenas de vezes. (a obra de Clarice Lispector)

- o continente pelo conteúdo.

O ginásio aplaudiu a seleção. (ginásio está substituindo os torcedores)

- a parte pelo todo.

Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento. (teto substitui casa)

- o efeito pela causa.

Suou muito para conseguir a casa própria. (suor substitui o trabalho)

PERÍFRASE

É a designação de um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.

A Veneza Brasileira também é palco de grandes espetáculos. (Veneza Brasileira = Recife)
A Cidade Maravilhosa está tomada pela violência. (Cidade Maravilhosa = Rio de Janeiro)

ANTÍTESE

Consiste no uso de palavras de sentidos opostos.

Nada, com Deus, é tudo.
Tudo, sem Deus, é nada.

EUFEMISMO

Consiste em suavizar palavras ou expressões que são desagradáveis.

Ele não está mais entre nós. (= morrer)
Os homens públicos envergonham o povo. (= políticos)
Chame a moça da limpeza, por favor. (= faxineira)

HIPÉRBOLE

É um exagero intencional com a finalidade de tornar mais expressiva a ideia.

Ela chorou rios de lágrimas pelo antigo noivo, o Atadolfo.
Muitas pessoas morriam de medo do velho do saco.

IRONIA

Consiste na inversão dos sentidos, ou seja, afirmamos o contrário do que pensamos.

Que alunos inteligentes, não sabem nem somar!
Se você gritar mais alto, eu agradeço.

ONOMATOPEIA

Consiste na reprodução ou imitação do som ou voz natural dos seres. Veja:

Com o au-au dos cachorros, os gatos desapareceram.
Miau-miau. – Eram os gatos miando no telhado a noite toda.

ALITERAÇÃO

Consiste na repetição de um determinado som consonantal no início ou interior das palavras.

O rato roeu a roupa do rei de Roma.

ELIPSE

Consiste na omissão de um termo que fica subentendido no contexto, identificado facilmente.

Após a queda, nenhuma fratura. (Não HOUVE nenhuma fratura)

ZEUGMA

Consiste na omissão de um termo já empregado anteriormente.

Ele come carne, eu, verduras. (A segunda aparição do verbo COMER é substituída pela VÍRGULA, que deixa o verbo apenas subentendido.)

PLEONASMO

Consiste na intensificação de um termo através da sua repetição, reforçando seu significado.

A mim, só me resta o desconsolo.

POLISSÍNDETO

É a repetição da conjunção entre as orações de um período ou entre os termos da oração.

Chegamos de viagem e tomamos banho e saímos para dançar.

ASSÍNDETO

Ocorre quando há a ausência da conjunção entre duas orações.

Chegamos de viagem, tomamos banho, depois saímos para dançar.

ANACOLUTO

Consiste numa mudança repentina da construção sintática da frase. Exemplo:

Ele, nada podia assustá-lo.

Nota: o anacoluto ocorre com freqüência na linguagem falada, quando o falante interrompe a frase, abandonando o que havia dito para reconstruí-la novamente.

ANAFÓRA

Consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade. Exemplo:

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro noturno. 
(Fernando Pessoa)

SILEPSE

Ocorre quando a concordância é realizada com a idéia e não sua forma gramatical. Existem três tipos de silepse: gênero, número e pessoa.

De gênero

Exemplo:

Vossa excelência está preocupado com as notícias. (a expressão Vossa Excelência é feminina quanto à forma, mas, nesse exemplo, a concordância se deu com a pessoa a que se refere o pronome de tratamento e não com o sujeito).

De número

Exemplo:

A boiada ficou furiosa com o peão e derrubaram a cerca. (Nesse caso, a concordância se deu com a ideia de plural da palavra boiada).

De pessoa

Exemplo:

As mulheres decidimos não votar em determinado partido até prestarem conta ao povo. (Nesse tipo de silepse, o falante se inclui mentalmente entre os participantes de um sujeito em 3ª pessoa).

Ufa! Essas são, então, algumas das principais figuras de linguagem que você deve estudar e aprender a reconhecer.
Espero que o resumo seja útil a todos e que a preparação continue acontecendo a cada dia, seja em nossos encontros na sala de aula, seja na troca de informações através desse canal virtual.
Meu grande abraço a todos!

Professor Daniel Vícola

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MUDANÇAS NA REDAÇÃO DO ENEM - TOME NOTA!


A prova de redação do Enem tem uma característica que a difere das demais: o candidato deve propor uma solução para um problema apresentado no tema. O que se espera do estudante é informação e criatividade para criar soluções, além de habilidade para defender seu ponto de vista.
Essa peculiaridade exige uma leitura atenta do noticiário para aguçar o poder de crítica, explica Suzete Trovão, coordenadora de língua portuguesa do Colégio QI.

Redação no Enem 2011 terá novas regras

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) anunciou, nesta sexta-feira (30) algumas alterações para a prova de redação do Enem 2011. Houve mudanças nas exigências e também na forma de avaliação do texto. Ao final das notas, a prova de redação tem um peso muito forte.
A partir desta edição do Enem, que será realizada nos dias 22 e 23 de outubro, os candidatos deverão escrever, no mínimo 08 linhas de texto. Até o ano passado, o mínimo exigido era de 11 linhas. Além disso, trechos da pergunta não poderão ser utilizados na redação. Os textos devem ser elaborados na estrutura de uma dissertação-argumentativa. Ou seja, os estudantes apresentam argumentos para comprovar sua tese e oferecem possíveis soluções para o problema apresentado na proposta de redação.
Outra alteração proposta pelo INEP é a mudança no critério de correção da prova. A prova, que vai de zero a mil pontos, será automaticamente corrigida por um supervisor quando a diferença entre as notas dos corretores atingir 300 pontos. Até o ano passado, essa margem de erro deveria atingir os 500 pontos.
Alunos e professores concordam que o treino é a melhor preparação para uma boa redação.
Ele precisa ter informação para poder fazer a intervenção pedida. Mas não bastará ter uma proposta, é preciso saber defendê-la com consistência - observa Suzette.

Desenvolvendo bem o seu texto

Para não cair na armadilha das generalidades, a dica é, no desenvolvimento da redação, saber usar a coletânea de textos apresentada no enunciado, fazendo comparações e observações sobre os fatos ou as estatísticas, por exemplo. Na conclusão, que é o momento de fazer a proposta, dê sugestões concretas. Portanto, se o tema é a importância da leitura, compare hábitos de leitores brasileiros e de outros países, por exemplo, e, na hora de propor, use a criatividade, sugerindo a criação de bibliotecas públicas, intercâmbio de livros, campanhas na mídia de incentivo à leitura via SMS e quantas boas ideias você tiver.
Em relação aos temas, o que se observa é que eles são objetivos e inspirados em fatos da atualidade. São assuntos de abrangência nacional, pois o exame é voltado para candidatos de todo o país. Temas de cunho social são recorrentes também.

Na hora de escrever

NÃO FAÇA períodos muito longos, prefira sempre frases simples, pois elas dão clareza ao texto.
NÃO CRIE estruturas sintáticas incompletas.
NÃO USE marcas de oralidade, como gírias, por exemplo.
NÃO RECORRA a clichês quando fizer sua proposta.
NÃO USE um mesmo argumento repetidas vezes.
DEIXE DE LADO expressões como "eu acho".
JAMAIS desrespeite os direitos humanos.
FAÇA UM ROTEIRO sobre o tema. Ajuda a ter foco na hora de criar a proposta.
PREFIRA um vocabulário simples a palavras rebuscadas.
USE sinônimos para não repetir palavras.
USE a norma culta. Uma das cinco competências da redação avalia o rigor gramatical.
SEJA coerente no texto com a proposta que defenderá.

Fonte: www.ogloboonline.com.br

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

MODERNISMO BRASILEIRO: CLARICE LISPECTOR




Lúcida em excesso

“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”. (Clarice Lispector)

Obras principais:

Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); Laços de família (contos, 1960); A legião estrangeira (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A hora da estrela (romance, 1977).

Características básicas:

- É a intérprete mais sofisticada da chamada ficção introspectiva.

- Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas e estados interiores das personagens em destaque.

- No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo interior.

- Sua linguagem é excepcionalmente densa e inovadora.

A hora da estrela

Relativa exceção a esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo SM) acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabéia) que vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado, pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela", conforme lhe profetiza uma cartomante, quando, no fim do relato, é atropelada e morta por um automóvel.

Autobiografia:
Clarice Lispector por Clarice Lispector

MODERNISMO BRASILEIRO: JOÃO GUIMARÃES ROSA


Obras principais:

Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites do sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutaméia (contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969).

Caraterísticas básicas:

- A primeira grande inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopéias, inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser resumida assim:
Linguajar sertanejo + Recriação estilística = Linguagem revolucionária

Observe o início de Grande sertão: veredas:

Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara de cachorro.

- O mundo retratado em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem vínculos com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a consciência mítica dos protagonistas. Esta consciência mágica explica o mundo pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam sinais de potências misteriosas e inexplicáveis. À medida que a modernidade urbana /capitalista avança, o mítico tende a ser dissolvido.

- A presença do demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na categoria do realismo mágico.

- Alguns contos de Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira margem do rio, de Primeiras estórias.

Grande sertão: veredas

- A temática da "jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste romanace, que se estrutura no jogo dialético do presente e do passado. Assim:

Plano presente:

O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências, Riobaldo formula uma série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a presença real ou fictícia do demônio, etc.

Plano passado:

Focaliza as experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo sertão mineiro. Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e historicamente falando. Numa espécie de "banalidade do mal", os bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no narrador o processo amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio, o sangue e a perfídia.
Não esqueça: A obra de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro –ultrapassa pela linguagem revolucionária e pela indagação a respeito da questões fundamentais do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.

LITERATURA: A TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA NA POESIA


A Geração de 1945

Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do texto tornam-se o objetivo básico desta geração, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.

A POESIA

1) JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998)

Obras principais:

Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).

- Sua obra se articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida como esforço em busca da síntese, do despojamento total. Sua poesia é lenta e sofrida pesquisa de expressão:

"Não a forma encontrada
como uma concha perdida (...)
mas a forma atingida
como a ponta do novelo
que a atenção, lenta, desenrola (...)"

- Os primeiros textos de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição) iniciam a aventura da expressão mínima e contida.

- Em O cão sem pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe, com sua sujeira, seus detritos e com a população miserável que lhe habita as margens, trágico espelho do subdesenvolvimento:

"Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa no rio
onde a terra começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem."

MORTE E VIDA SEVERINA

A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal pernambucano. Aqui a técnica despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migração apenas a morte. Severino continua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notícia do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai visitá-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência de todos os "severinos" do Nordeste.

E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida (...)
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

2. A POESIA CONCRETA
(Décio Pignatari)

- A partir de 1952, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres.

- Reação contra a lírica discursiva e frequentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta procura se filiar às experiências mais ousadas das vanguardas dos século XX. Ela poderia ser sintetizada assim:

a) linguagem sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial;

b) valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões na página;

c) o poema ganha o espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto:

d) utilização de recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.

ovo
novelo
novo no velho
o filho em folhos
na jaula dos joelhos
infante em fonte
feto feito
dentro do
centro
3. FERREIRA GULLAR


Obras principais: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976)

- Iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta.

-Após romper com os concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da época, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes, excessivamente politizada e prosaica.

- A publicação de Poema sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e formais. Poema sujo é uma espécie de síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experiências vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas angústias e esperanças, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia "suja" com os resíduos da realidade.

- Em Poema sujo, as ideias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se. tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em meio às primeiras crises da ditadura militar.

Clique AQUI e leia alguns poemas concretos de Ferreira Gullar.

LITERATURA: A TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA NO BRASIL


"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto – e o mundo não está à tona." (Clarice Lispector)

"Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar. Viver é muito perigoso..." (Guimarães Rosa)

A Terceira Fase do Modernismo constitui a Geração de 45, cuja prosa apresenta uma diversidade grande de temas e de linguagem. Todavia, os romances e os contos de dois autores sobrepujam, sobremaneira, os dos outros autores brasileiros que fizeram literatura a partir dos anos 40 até hoje: Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
Apesar das profundas diferenças da obra de cada um, Guimarães Rosa e Clarice Lispector apresentam posturas comuns como a insubordinação aos processos romanescos de até então (não seguiram o romance regionalista, o urbano e o psicológico da época) e a constante pesquisa com a linguagem. Por essas razões, ambos são chamados de instrumentalistas, o que significa dizer que se preocupavam muito com o trabalho, isto é, com a melhor elaboração de seus respectivos textos. Além disso, há nesses dois escritores um interesse de universalizar o romance brasileiro, um procedimento bem claro na sondagem do mundo interior das personagens. A diferença mais evidente entre ambos é que em Guimarães Rosa existe ainda a manutenção do enredo com suspense, ao passo que em Clarice Lispector aparece o abandono claro do enredo referencial narrativo e o mergulho nas profundezas da alma de personagens isolados e problemáticos.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A PROSA DA SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA BRASILEIRA



A PROSA DA SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA

Na literatura regionalista brasileira, podem-se encontrar duas tendências bem distintas: no Romantismo havia a idealização na Natureza e do homem; no Modernismo, há o amesquinhamento da Natureza e do homem.
É compreensível que o romântico José de Alencar tenha feito um regionalismo ufanista, contando as belezas do Brasil de forma superlativa, afinal este país estava nascendo depois de longa dominação portuguesa. As poucas deficiências que esporadicamente o romântico apresentava eram signos de um futuro tedioso e opulento.
Os anos pós-independência, no entanto, não mudaram o Brasil oligárquico da era colonial. A estrutura social vigente na Colônia não se alterou até hoje, não obstante as transformações sociais no mundo e o inchamento das cidades.
Lentamente, alguns romancistas ainda formados no Romantismo foram acenando para uma nova forma de ver a Natureza e o homem do Brasil, calcada em uma visão cética e inquietante. É a força de argumentos realistas incipientes em O Cabeleira, de Franklin Távora, em Inocência, de Visconde de Taunay, em O Missionário, de Inglês de Sousa. A terra brasileira já não é tão dadivosa e o homem, de tão miserável e problemático, virou herói derrotado. Os pobres são tangidos pelos cataclismas e pela injustiça social e os ricos jamais declinam de privilégios em prol de nada.
Essas realidades vão entrando na literatura, mesmo que não resolvidas, e ocupam a obra de quase toda uma geração de romancistas que, apoiados no Manifesto do Recife, sob a liderança do sociólogo Gilberto Freire, em 1927, constitui-se na geração do Romance Regionalista de 30.
Essa geração teve uma visão completamente crítica do Brasil, notadamente no Nordeste, epicentro da miséria e da exploração de seres humanos.
A seca é uma espécie de prova dos nove desses romancistas; a seca e também o homem miserável, o vaqueiro, o sertanejo, as famílias famintas, a submissão do trabalhador ao latifúndio, o retirante, o coronelismo, o cangaço, o misticismo, a injustiça social.
Dessa geração crítica e engajada, fazem parte José Américo de Almeida, Raquel de Queirós, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado. Existe, ainda, um escritor do Sul que mantém pontos de contato com os nordestinos: Érico Veríssimo, mesmo que o regionalismo deste gaúcho não tenha tido a força da crítica social dos nordestinos.
É preciso considerar também nessa fase uma outra literatura voltada para o intimismo e para a psicologia, a qual se estendeu até a terceira fase do Modernismo. Destacam-se nessa vertente de prosa psicológica os escritores Ciro dos Anjos (O Amanuense Belmiro), Cornélio Pena (Fronteira) e Graciliano Ramos de São Bernardo, Angústia e Caetés, romances especialmente psicológicos.
Considera-se, ainda, a prosa urbana originária no Romantismo e retomada no Realismo-Naturalismo. Érico Veríssimo é o representante desse tipo de prosa na sua primeira fase literária com Clarissa e Olhai os Lírios do Campo.

PENSE E RESPONDA:

1) Que tipo de nacionalismo apresentou essa segunda geração modernista na prosa? Ele se aproxima ou se distancia do nacionalismo praticado pelos românticos?

2) Quais temas foram trabalhados pelos autores da geração do romance regionalista de 30? Qual a região que prevalesce como pano de fundo para esses autores? Por qual razão?

3) Cite os principais autores desse período na prosa.

4) O grupo da geração de 30 se preocupava muito com o engajamento social, em denunciar problemas sociais e realidades massacrantes. Na poesia desse mesmo período observa-se a mesma preocupação social ou os poetas se distanciaram da tendência predominante na prosa?

MODERNISMO BRASILEIRO: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

COLETÂNEA DE TEXTOS DE DRUMMOND:

1) NÃO DEIXE O AMOR PASSAR

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.
Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.
2) AS SEM-RAZÕES DO AMOR

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

3) A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

4) MEMÓRIA

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

5) PARA SEMPRE

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

6) QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

7) ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU

Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.

8) DESEJO A VOCÊ

Desejo a você…
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Crônica de Rubem Braga
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Uma tarde amena
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

9) PRECISA-SE DE UM AMIGO

Não precisa ser homem, basta ser humano, ter sentimentos.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem imprescindível, que seja de segunda mão.
Não é preciso que seja puro, ou todo impuro, mas não deve ser vulgar.
Pode já ter sido enganado ( todos os amigos são enganados).
Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar aquelas que não puderam nascer.
Deve amar o próximo e respeitar a dor que todos levam consigo.
Tem que gostar de poesia, dos pássaros, do por do sol e do canto dos ventos.
E seu principal objetivo de ser o de ser amigo.
Precisa-se de um amigo que faça a vida valer a pena, não porque a vida é bela, mas por já se ter um amigo.
Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo.
Precisa-se de um amigo para ter-se a consciência de que ainda se vive.

10) MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

11) POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

12) CONSOLO NA PRAIA

Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o 'humour'?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

A SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA NO BRASIL

Segunda fase Modernista no Brasil - (1930-1945)
Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na produção poética e também na prosa. O universo temático se amplia e os artistas passam a preocupar-se mais com o destino dos homens, o estar-no-mundo.

A segunda fase colheu os resultados da precedente, substituindo o caráter destruidor pela intenção construtiva, “pela recomposição de valores e configuração da nova ordem estética”. (Cassiano Ricardo)

Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade temática, gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso livre, anti-academicismo.
A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e formas iniciada antes, ampliando a temática na direção da inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, ao tempo em que a prosa alargava a sua área de interesse para incluir preocupações novas de ordem política, social e econômica, humana e espiritual. À piada sucedeu a gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Uma geração grave, preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional.
O humor quase piadístico de Drummond receberia influencias de Mário e Oswald de Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge de Lima e Murilo Mendes apresentam certo espiritualismo que vinha do livro de Mário Há uma gota de Sangue em cada Poema (1917).
A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já encontraram uma linguagem poética modernista estruturada. Passaram então a aprimorá-la e extrair dela novas variações, numa maior estabilidade.
O Modernismo já estava dinamicamente incorporado `as praticas literárias brasileiras, sendo assim os modernistas de 30 estão mais voltados ao drama do mundo e ao desconcerto do capitalismo.

"Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos. (...) Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. / As leis ano bastam. Os lírios ano nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se / na pedra." (Carlos Drummond de Andrade, in Nosso Tempo)

Características da segunda geração modernista:
* Repensar a historia nacional com humor e ironia - " Em outubro de 1930 / Nós fizemos — que animação! — / Um pic-nic com carabinas." (Festa Familiar - Murilo Mendes)

* Verso livre e poesia sintética - " Stop. / A vida parou / ou foi o automóvel?" (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)

* Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si mesmo enquanto indivíduo

* Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta

* Literatura mais construtiva e mais politizada.

* Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (Cecília, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)

* Aprofundamento das relações do eu com o mundo

* Consciência da fragilidade do eu - "Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo" (Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do Mundo)

* Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união, as soluções coletivas - " O presente é tão grande, ano nos afastemos, / Ano nos afastemos muito, vamos de mãos dadas." (Carlos Drummond de Andrade - Mãos dadas)

EXERCÍCIOS:

1) Qual o período compreendido pela segunda geração modernista? O que mais caracterizou, do ponto de vista filosófico, essa geração?

2) Cite caracterísiticas da primeira geração modernista que foram pacificamente absorvidas e aproveitadas pela segunda.

3) Que rumo tomou a poesia dessa época? Cite os principais poetas do período.

4) Explique a seguinte declaração, extraída do texto: "A geração de 30 não precisou ser combativa como a geração de 22." Por que isso foi possível?

5) Sintetize as principais características literárias da segunda geração modernista no Brasil.

MODERNISMO BRASILEIRO: MANUEL BANDEIRA


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Poemas selecionados:

1) Carlos Drummond de Andrade

Louvo o Padre, louvo o Filho,
O Espírito Santo louvo.
Isto feito, louvo aquele
Que ora chega aos sessent'anos
E no meio de seus pares
Prima pela qualidade:
O poeta lúcido e límpido
Que é Carlos Drummond de Andrade.

Prima em Alguma Poesia,
Prima no Brejo das Almas
Prima em Rosa do Povo,
No Sentimento do Mundo.
(Lírico ou participante,
Sempre é poeta de verdade
Esse homem lépido e limpo
Que é Carlos Drummond de Andrade).

Como é o fazendeiro do ar,
O obscuro enigma dos astros
Intui, capta em claro enigma.
Claro, alto e raro. De resto
Ponteia em viola de bolso
Inteiramente à vontade
O poeta diverso e múltiplo
Que é Carlos Drummond de Andrade.

Louvo o Padre, o Filho, o Espírito
Santo, e após outra Trindade
Louvo: o homem, o poeta, o amigo
Que é Carlos Drummond de Andrade.

Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 183.

2) Profundamente


Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

*

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

3) A onda

a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

4) A Estrela

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alto luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.

5) Confissão

Se não a vejo e o espírito a afigura,
Cresce este meu desejo de hora em hora...
Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,
O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.

Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...
Abrir-lhe o incerto coração que chora,
Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,
Agora embravecida e mansa agora...

E é num arroubo em que a alma desfalece
De sonhá-la prendada e casta e clara,
Que eu, em minha miséria, absorto a aguardo...

Mas ela chega, e toda me parece
Tão acima de mim...tão linda e rara...
Que hesito, balbucio e me acovardo.

6) Quando perderes o gosto humilde da tristeza

Quando perderes a gosto humilde da tristeza,
Quando nas horas melancólicas do dia,
Não ouvires mais os lábios da sombra
Murmurarem ao teu ouvido
As palavras de voluptuosa beleza
Ou de casta sabedoria;

Quando a tua tristeza não for mais que amargura,
Quando perderes todo estímulo e toda crença,
- A fé no bem e na virtude,
A confiança nos teus amigos e na tua amante,
Quando o próprio dia se te mudar em noite escura
De desconsolação e malquerença;

Quando, na agonia de tudo o que passa
Ante os olhos imóveis do infinito,
Na dor de ver murcharem as rosas,
E como as rosas tudo o que é belo e frágil,
Não sentires em teu ânimo aflito
Crescer a ânsia de vida como uma divina graça:

Quando tiveres inveja, quando o ciúme
Cristar os últimos lírios de tua alma desvirginada;
Quando em teus olhos áridos
Estancarem-se as fontes das suaves lágrimas
Em que se amorteceu o pecaminoso lume
De tua inquieta mocidade:

Então sorri pela última vez, tristemente,
A tudo o que outrora
Amaste. Sorri tristemente...
Sorri mansamente...em um sorriso pálido...pálido
Como o beijo religioso que puseste
Na fronte morta de tua mãe...Sobre a tua fronte morta...

7) Madrigal melancólico

O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
Não é a inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e dos coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida,
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti - lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.

8) Neologismo


Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

9) Último poema

Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

10) O menino dorme

O menino dorme

Para que o menino
Durma sossegado,
Sentada ao seu lado
A mãezinha canta:
— "Dodói, vai-te embora!
"Deixa o meu filhinho,
"Dorme . . . dorme . . . meu . . ."

Morta de fadiga,
Ela adormeceu.
Então, no ombro dela,
Um vulto de santa,
Na mesma cantiga,
Na mesma voz dela,
Se debruça e canta:
— "Dorme, meu amor.
"Dorme, meu benzinho . . . "

E o menino dorme.

11) Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas . . .

— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

12) Andorinha

Andorinha lá fora está dizendo:
— "Passei o dia à toa, à toa!"

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa . . .

13) Irene no céu

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

14) Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

ATIVIDADE:

Depois de ler essa seleção de poemas de Manuel Bandeira, pense em tudo o que você já estudou sobre as características literárias da primeira geração no Brasil e responda: o estilo e a temática observados em M.B. podem ser prontamente identificados como pertencentes àquele grupo ou você enxerga diferenças consideráveis entre o que observou na obra desse autor?
Tente fazer um resumo esquemático dos TEMAS mais trabalhados por Manuel Bandeira e explicar sua singularidade dentro do grupo a que pertenceu.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

INSTRUÇÕES PARA O ENEM 2011

Está preparado(a) para o Enem? Relembre algumas informações importantes sobre a realização das provas.
A data do Enem 2011 está definida para os dias 22 e 23 de outubro de 2011. O tempo realmente é um fator que, doravante, pressionará os participantes deste ano. A cada dia aproxima-se mais as datas das provas e os calendários de estudos vão ficando cada vez mais apertados.
Só pra você não se perder, aqui vão, novamente, algumas informações importantes:
No dia 22 de outubro de 2011 será realizada a primeira prova do Enem 2011 a partir das 13:00 horas (horário de Brasília). O primeiro dia do Enem 2011 contará com as avaliações de Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Nesta data dos participantes terão 4 horas e 30 minutos para responderem 45 questões de cada uma das provas.
Já no dia 23 de outubro, a partir das 13:00 horas, serão realizadas as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias e a Redação do Enem. No segundo dia de provas cada participante contará com 5 horas e 30 minutos para realizarem as questões e a redação.
O INEP, através do Edital do Enem 2011, recomenda a todos os participantes na data do Enem 2011 a chegarem aos locais de prova às 12:00 horas, uma vez que os portões de acesso serão fechados às 13:00 horas.
Definida a data do Enem 2011, resta aos participantes aguardar pela divulgação dos locais de prova do Enem 2011 que somente serão conhecidos quando estiverem disponíveis os cartões de confirmação de inscrição.
Vale lembrar que as recomendações são as de que o aluno não traga lápis e borracha no dia do exame, mas somente uma caneta esferográfica de tinta azul ou preta.
Boa sorte a todos!

A LÍNGUA PORTUGUESA NO ENEM

 Sem preguiça na hora de escrever! Expressar-se bem é fundamental para a prova do Enem!

A partir deste ano, o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, será diferente. Ele servirá como processo seletivo para ingresso nas universidades e nos institutos federais. E as mudanças nas questões envolvendo linguagem serão um dos seus pilares.
A expectativa do MEC é que todas as instituições federais adotem, de alguma forma, o novo Enem como seleção. Mais de 3 milhões de estudantes de todo o país farão o exame, marcado para 22 e 23 de outubro.
Até agora, 42 das 55 universidades federais já declararam usar o Enem de alguma forma como ferramenta de seleção para ingresso. Algumas já adotam o exame para selecionar um percentual de suas vagas, ficando a aplicação de vestibulares como critério para vagas restantes. Há universidades que adotam o Enem só para filtrar candidatos menos preparados em uma primeira fase, o "peneirão", e usam seus vestibulares tradicionais na segunda e definitiva fase seletiva.
Até 2008, o Enem era uma prova clássica com 63 questões interdisciplinares, sem articulação direta com os conteúdos ministrados no ensino médio e sem a possibilidade de comparação das notas de um ano para outro. A proposta do MEC é que o exame possa ser comparável no tempo e aborde diretamente o currículo do ensino médio.

Cotidiano

O exame será composto por perguntas objetivas em quatro áreas do conhecimento e suas tecnologias: linguagens e códigos; ciências humanas; ciências da natureza e matemática. Cada grupo de testes será composto por 45 itens de múltipla escolha, aplicados em dois dias.
Ver o Enem como se fosse vestibular é um jeito de o MEC sinalizar outro tipo de formação ao ensino médio, voltada para a solução de problemas em vez do mero acúmulo de conteúdo. Para Marcia Molina, coordenadora de letras da Unisa, o exame passa a avaliar e forçar o ensino básico a trabalhar conteúdos de linguagens atuais e próximos do cotidiano do educando.
- O fato é que, cedo ou tarde, o Enem será usado, desde que devidamente aperfeiçoado. Isso porque parece mais cômodo para as universidades transferir toda a responsabilidade de um complexo processo de organização e gerenciamento de um vestibular. Além dos problemas logísticos como inscrições de candidatos, elaboração, produção, impressão e aplicação de provas, há o cuidado redobrado com a segurança para manter a lisura em todas as partes do processo - afirma Antonio Carlos Xavier, da Universidade Federal de Pernambuco.

Efeitos

Doutora em linguística e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Jane Quintiliano afirma que este é um momento em que se assiste a um movimento, na educação, que promoverá uma série de efeitos que não se limita aos exames de vestibular do país, que ainda apostam em práticas avaliativas.

- Haverá, em grau maior ou menor, uma redefinição no dia a dia da escola, em seus objetos de ensino e aprendizagem e, por extensão, isso chegará aos cursinhos preparatórios para o vestibular. Essa mudança desenha novo ensino, professor e perfil de aluno. O conteúdo passa a ser tratado como um objeto a ser aprendido, a ser apropriado pelo aluno como um conhecimento que se presta a uma finalidade, que prevê um uso social, contextualizado no quadro de uma situação-problema - explica. 

A consequência direta desse raciocínio é que os critérios de avaliação de língua portuguesa e redação do Enem seguem a tendência de medir competências e habilidades, não tanto a terminologia dominante nos estudos de gramática. Interessa desenvolver o que está sendo tomado como objeto de conhecimento ou de aprendizagem. Isso implicará uma avaliação que não priorize a mera identificação, decodificação, classificação e nomeação dos fenômenos e objetos estudados, mas privilegie o raciocínio, a análise, a interpretação, as inferências, em que o aluno deve ter a informação e saber como operá-la conforme a situação em que ela se inscreve.

Novo Enem requer capacidade de comunicação apurada e consciente de seus processos de produção.

Enunciação

A ênfase, nas provas específicas, será no uso dado à língua portuguesa nas mais diversas situações de comunicação. Serão analisados o texto e o evento comunicativo que o atualiza, ou seja, os enunciados que o compõem. Os elementos linguísticos, textuais, enunciativos, discursivos e conceituais deverão ser lidos e analisados tendo em vista as condições de produção e recepção do texto em exame. 

- Sob esse enfoque, a língua portuguesa ganha vida no texto, na enunciação. O seu trabalho de análise não deve ser aquele pautado por uma orientação metalinguística, em que se privilegia um saber gramatical apartado de outros saberes comunicativos, discursivos, pragmáticos - afirma Jane Quintiliano, professora da PUC-MG. 

Nas provas objetivas, de marcar "x", os conhecimentos do léxico da língua portuguesa e das relações lógico-semânticas, e a capacidade de realizar cálculos pragmáticos para descobrir a intenção dos autores de textos orais e escritos, também serão cobrados com maior intensidade do candidato. O aluno deve dominar os vários mecanismos sintáticos e saber como utilizar adequadamente os sinais de pontuação, as formas de concordâncias verbal e nominal, os aspectos e modos de conjugação dos verbos, elementos de referência pessoal, espacial e temporal, pois tudo isso será objeto de avaliação na prova. 

- Certamente não serão pedidas as nomenclaturas desses fenômenos, mas seu funcionamento na língua. Essa é uma das principais virtudes do Enem e que terá continuidade a ponto de desencorajar aulas de português centradas na mecanização de regras sem uma compreensão da sua verdadeira funcionalidade - opina Xavier, da UFPE. 

Já a redação deverá ser estruturada na forma de texto em prosa do tipo dissertativo-argumentativo, a partir de um tema de ordem social, científica, cultural ou política. Diminui, assim, a possibilidade de o candidato contar com uma preparação focada numa diversidade de gêneros de texto, como narrativas e cartas (dirigida a interlocutor específico, diferentemente da dissertação argumentativa, que se dirige a interlocutor genérico, universal). 

- Nesse sistema de avaliação, prevê-se um aluno cuja vida acadêmica tenha lhe proporcionado o desenvolvimento de uma competência discursiva que o capacite a se constituir usuário da língua e dos discursos que o cercam. Portanto, desenha-se um sujeito dotado de uma autonomia, de uma reflexão, de uma posição responsiva, dialógica com a sua fala e a fala dos outros com quem interage - explica Jane Quintiliano.

Atenção

Os critérios para a avaliação da redação, aplicados pelos professores de português selecionados pelo Enem, foram baseados nas cinco competências da prova objetiva (dominar linguagens, conhecer fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentação e elaborar propostas de solução levando em conta os direitos humanos e a diversidade sociocultural).
Cada uma dessas competências corresponde a um dos cinco aspectos esperados no texto. Assim, o candidato deve compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema na estrutura de um texto dissertativo-argumentativo; demonstrar domínio do padrão da língua; selecionar, relacionar, interpretar e organizar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; demonstrar que sabe usar os mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação, e elaborar proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Para Lílian Ghiuro Passarelli, professora de português da PUC-SP, o candidato atento, que lê com atenção toda a proposta, terá à disposição as informações de que necessita para produzir seu texto e os critérios com os quais será avaliado. No caso da PUC-SP, as propostas são construídas com textos que devem ser contemplados pelo candidato ao produzir sua redação. Isso implica que o aproveitamento da "conversa" entre os textos geradores da proposta é um dos critérios de avaliação. De acordo com o tratamento que o estudante confere à articulação das ideias presentes nos textos de apoio, com mais ou menos espírito crítico, a pontuação pode oscilar.
- Outro critério costuma ser a adequação do texto ao desenvolvimento do tema. Se, por exemplo, for solicitada a produção de texto dissertativo-argumentativo com base em tema gerado pelos textos de apoio, a estrutura da redação tem de se apresentar compatível com esse tipo de texto. O uso da norma culta também é um critério que não se restringe apenas à correção gramatical, mas ao uso adequado de estilo ou registro, com propriedade de termos e construções frásicas, de acordo com a situação discursiva. E a presença do título tem de ser adequada ao texto - explica Passarelli.
Desde a criação do Enem, em 1998, o desempenho dos candidatos a universitários em provas de língua portuguesa e redação é o que mais preocupa os professores. Dados de 2008 mostram que a média geral nas provas objetivas, considerando alunos de escolas públicas e privadas, foi de 41,69, numa escala de 0 a 100 pontos. Em redação, a média ficou em 59,35 pontos. Esses resultados não são diferentes dos observados nas avaliações dos anos anteriores.

Desempenho

Nas provas de língua portuguesa, com questões objetivas, o problema mais comum se refere à compreensão de leitura da pergunta e dos textos usados como exemplo. Quanto à prova de redação, tem havido muita repetição de fórmula, como se o ensino de produção textual fosse pré-moldado.
Um dos problemas de natureza gramatical que parece ter aumentado foi a acentuação ortográfica, o que deve se agravar com a adoção do novo acordo ortográfico. Há estudantes que, na dúvida (ou na "certeza" de que os acentos "caíram"), não acentuam praticamente nada. Um ponto que também aflige é a ortografia errada de palavras que estão presentes nos enunciados da prova. Problemas de paralelismo sintático e semântico são bastante comuns.

- Entre tantas ocorrências, um problema comum é o título dado pelos candidatos a suas redações. Além de muitos não "batizarem" seu texto, há os que até o batizam, mas por vezes a obviedade é tanta que o título acaba não cumprindo seu papel de dar a conhecer o que será tratado no texto. Há casos em que o título até se apresenta em adequação ao texto produzido, mas é tão lugar-comum que a carga de informação que ele deveria oferecer acaba praticamente nula - afirma Lílian Passarelli.

Teoria e prática

Ao final do ensino médio, prevê-se que o aluno compreenda e use um registro da língua portuguesa adequado às mais diversas situações de comunicação das quais participa como produtor e ouvinte ou leitor.
A construção dessa competência pressupõe, pelo aluno, o uso de diferentes habilidades, como avaliar a situação de comunicação - quem são os interlocutores, o propósito do texto, seu conteúdo temático, o objetivo em mente, os efeitos que se pretende alcançar, o gênero de discurso em cena - selecionar a variedade de língua que se mostra eficaz à situação de comunicação, o estilo a ser empregado, e planificar o texto. Em outras palavras, o que está em jogo são os saberes ou os conhecimentos relativos aos modos de agir discursivamente em uma comunidade.

- É preocupante que grande parte dos textos produzidos em vestibular dá-nos um retrato das práticas de escrita no mundo escolar: são esvaziadas de sentido, pois não remetem a situações de escrita que se aproximam das práticas discursivas de nossa sociedade. Os candidatos parecem não lidar, no curso de sua produção escrita, com um projeto de dizer, traçado, muitas vezes, na proposição da tarefa - diz Jane Quintiliano.

Everaldo Pinheiro, professor de literatura da Universidade São Judas Tadeu, lamenta os analfabetos funcionais. 

- Os alunos escrevem e leem, mas não interpretam o que leem e não dão sentido ao que escrevem. A função do Enem é forçar as escolas a uma postura de eficiência no conhecimento da língua portuguesa e de sua estrutura - explica.

A falta de compreensão e os problemas de desenvolvimento textuais têm sido graves, diz Carlos Augusto Andrade, pró-reitor de graduação da Universidade Cruzeiro do Sul. 

- Há redações que não traduzem o mínimo de coerência e pertinência ao tema proposto. Muitas são escritas numa variante coloquial, com incidência da modalidade oral e não respeitando o contexto de produção que exige linguagem mais apurada. Percebe-se falta de conhecimento de mundo e os conhecimentos de estruturação textuais - explica.

Dificuldade para interpretar os diferentes tipos de textos que compõem as questões da prova de linguagens e códigos é uma das razões apontadas para o fracasso de muitos candidatos na prova.

Dificuldades

O reitor da Universidade de Sorocaba, Aldo Vannucchi, coleciona exemplos de tropeços em vestibulares. Há muitas marcas da oralidade (treis, vamo...); dificuldade de distinguir os gêneros dos textos (descritivo, narrativo, dissertativo); de organizar e dar coesão ao texto. 

- Os candidatos revelam, em geral, dificuldades no domínio das regras da norma culta. Na redação, faltam aprofundamento do tema, concatenação dos parágrafos e pontuação. Poucos alunos reveem, corrigem e aprimoram o que escrevem - diz.

Antonio Carlos Xavier, da UFPE, fez pesquisa, em 2005, com um grupo de 50 professores de português, pois acreditava que muitos deles não dominavam aquilo que ensinavam: a produção de texto. 

- Descobri que a falta de prática levou muitos deles a perder a habilidade de escrever. Grande parte dos nossos universitários sai dos cursos de letras e pedagogia sem dominar aquilo que lecionam e essa falha se perpetua em toda a sua vida profissional. A consequência é o excesso de aulas de gramática e os escassos momentos para a produção de texto. Quando solicitada, faz-se de forma inadequada, instruindo o aluno a escrever sobre um tema às vezes desconhecido para ele. A escrita não é precedida por uma discussão oral sobre o tema nem pela leitura de textos que o abordem. É preciso subsidiar o aluno de informação para que possa construir um texto com um mínimo de qualidade, pertinência e relevância - explica.

Investimentos

Para Roberto Baronas, professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é necessário um investimento político e financeiro na formação não apenas continuada, mas, principalmente, permanente dos nossos professores. Esse investimento implicaria, por exemplo, mobilizar de forma efetiva as contribuições das mais diversas ciências da linguagem para se pensar o ensino de português e de redação na escola. 

- Enquanto a escola estiver presa a uma abordagem estritamente gramatical, que não considera o uso e o funcionamento discursivo da língua, nossos alunos continuarão com baixo desempenho escolar - afirma.

Reestruturação

Professora do curso de Letras da Universidade Anhembi Morumbi, Débora Malletezarim de Angelo concorda que é preciso haver uma maior valorização da categoria. 

- Valorizar a profissão de professor e formar profissionais dispostos a estudar sempre, e não apenas no período da graduação, é uma das formas de melhorar a qualidade do ensino nas escolas - afirma.

Segundo o MEC, reestruturar o Enem para usá-lo como prova unificada evidencia o papel que o exame já cumpre. Em 11 edições, a procura pelo Enem subiu de 150 mil para mais de 4 milhões de inscritos, sendo que mais de 70% dos participantes afirmam que fazem a prova com o objetivo maior de chegar à faculdade.
Um inconveniente que o MEC quer contornar com o novo modelo é a descentralização dos processos seletivos, que favorece candidatos com maior poder aquisitivo, capazes de diversificar suas opções na disputa por uma vaga. Por outro lado, restringe a capacidade de recrutamento pelas universidades públicas, desfavorecendo aquelas localizadas em centros menores. Outra característica nociva do vestibular tradicional é a maneira como ele acaba por orientar o currículo do ensino médio.
Se a iniciativa do MEC terá adesão de todas as instituições, é cedo para dizer. Seja qual for o futuro do exame, dizem os especialistas, os temas de português e a redação serão alvo de atenção redobrada e mudanças, que têm tudo para ser benéficas.

Fonte: Site da revista Língua Portuguesa