segunda-feira, 20 de junho de 2011

CHARLIE BROWN E A ETERNA GAROTINHA RUIVA - AMOR PLATÔNICO GANHA ESPAÇO ATÉ NOS QUADRINHOS!

 
Assunto bastante caro à produção literária de todos os tempos, o amor platônico não encontrou espaço apenas entre os grandes nomes da literatura. Ao contrário: outras formas de arte se incumbiram de lhe pagar tributo e o reverenciar das mais divertidas e poéticas formas, sempre mexendo com os nossos sonhos mais íntimos e nos instigando a imaginação que, afinal de contas, pode não querer, de fato, dar rosto, forma, CIC e RG ao ser amado, mas tão somente cultuá-lo num plano bem distinto do imediato concreto.
A matéria abaixo é um belíssimo exemplo disso: Alexandre Inagaki nos fala como a clássica "garotinha ruiva", musa eterna do não menos ilustre Charlie Brown, nos quadrinhos do talentosíssimo Charles Schulz, constitui-se na mais pura e cândida representação do amor platônico na esfera das histórias em quadrinhos. Vale a pena acompanhar e se divertir com a bem fundamentada reflexão do autor.
Acrescentei alguns vídeos e imagens para ilustrar com maior riqueza a matéria e, de quebra, promover a sempre bem-vinda e saudosista viagem no tempo.
Aproveitem!

Prof. Daniel Vícola


De todas as criações de Charles Schulz, nenhuma me foi tão marcante quanto a garotinha ruiva, símbolo-mor de todos os amores idílicos e nunca concretizados.
Pobre Charlie Brown. Todos nós sentimos compaixão por ele, porque ele simboliza todas as nossas frustrações, inseguranças e fracassos na vida. O que dizer de alguém que não recebeu um cartão sequer no Dia dos Namorados, jamais conseguiu fazer voar uma pipa, porque todas enganchavam em alguma árvore, nunca ganhou um jogo de beisebol (e nem chutar as bolas seguradas pela Lucy!) e, principalmente, jamais teve coragem para falar com a garotinha ruiva e confessar o seu amor?
Questiona Charlie em uma das tiras dos Peanuts: "Mas o amor não existe para fazer a gente feliz?" Nem sempre, Minduim, nem sempre. Que o digam as angústias caladas, os sentimentos represados, as inseguranças que atormentam uma pessoa enredada pelo vórtice da paixão. Tal como na Quadrilha, de Drummond, os personagens de Schulz sofrem com amores não-correspondidos. Sally ama Linus que ama sua professora; Lucy ama Schroeder que ama Beethoven; Patty Pimentinha ama Charlie Brown que ama a garotinha ruiva. E, assim como Linus aguarda em vão pela chegada da Grande Abóbora (nos mesmos moldes da espera de Estragon e Wladimir por Godot), a turma do Snoopy ama infrutiferamente. Nós, que somos leitores e espectadores voyeurs da obra de Schulz, rimos com suas histórias. E, no entanto, esse riso é banhado por melancolia, porque todos nós já tivemos um momento Charlie Brown em algum instante de nossas vidas.


Quem acompanhou as histórias de Snoopy e sua turma através dos desenhos exibidos todo domingo à noite no SBT pode me questionar: "Ué, mas Charlie não chegou a beijar a garotinha ruiva uma vez?" Sim: foi no especial para a TV "It's Your First Kiss, Charlie Brown", produzido em 1977. Contudo, vale a pena ressaltar que ela jamais foi mostrada em uma tira sequer (a não ser por meio de menções feitas por outros personagens), e que sua aparição no desenho animado foi realizada à revelia de Schulz. A propósito, os produtores do programa deram até mesmo um nome para a garotinha ruiva: Heather.
Para os puristas (incluo-me entre eles), essa aparição é apócrifa e completamente oposta ao espírito original da personagem. Afinal de contas, como nomear ou dar face ao Mistério? Porque a garotinha ruiva nada mais é do que a metáfora daquele amor idílico que perseguimos na juventude: aquele amor que jamais terá rugas ou saldo negativo no banco, que nunca pendurará calcinhas no chuveiro ou esquecerá de levantar a tampa do vaso sanitário, e que permanecerá para sempre imaculado e perfeito em nossos sonhos platônicos.

Por: Alexandre Inagaki

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