segunda-feira, 20 de junho de 2011

FALANDO SOBRE LITERATURA: O ROMANTISMO

Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa que perdurou por grande parte do século XIX. Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo que marcou o período neoclássico e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa.


Cada romance, conto ou poema é uma criação artística única, que expressa a subjetividade de seu autor. Mas conhecer os movimentos literários a que estão ligados os escritores permite ampliar a compreensão sobre seus livros
Ler os livros de bons autores é, além de um grande prazer, indispensável para conhecer a literatura de qualquer país. As resenhas e os comentários de obras brasileiras e portuguesas, presentes na internet, auxiliam o entendimento sobre o significado das criações, mas não dispensam sua leitura.
Qualquer obra de arte pode ser considerada única, pois expressa a subjetividade de seu autor. Mas, para ampliar a compreensão do significado e do alcance de romances, contos ou poemas, é necessário também levar em conta que as obras surgem em determinada situação histórica e estão impregnadas pelo ambiente social, econômico e político em que vive ou viveu seu criador. Podem ser encontrados traços comuns em diferentes obras, de escritores diversos, provenientes do mesmo período.
É por isso que os estudiosos dividem as obras de acordo com as escolas literárias nas quais elas podem ser inseridas. Além de facilitar o aprendizado das modificações da cultura no decorrer dos séculos, essa divisão em períodos pode acrescentar novos elementos à compreensão de cada livro em particular.

INÍCIO DA LITERATURA BRASILEIRA

No Brasil, colônia de Portugal entre o século XVI e o início do XIX, as primeiras criações literárias são consideradas parte da literatura portuguesa. O professor Antonio Candido, um dos mais respeitados estudiosos do país, considera que a literatura nacional teve início de fato no século XVIII, com o arcadismo, movimento que exaltava ideais neoclássicos, inspirados na Antiguidade greco-romana.
É claro que, antes disso, foram escritos muitos textos literários no Brasil, mas eram manifestações esparsas e limitadas, sem que houvesse uma sistemática atividade que envolvesse criadores e seu público. Isso só começou com os poetas árcades.


Com o Romantismo, desenvolve-se e amplia-se a criação literária nacional. Os ideais românticos, nascidos na Europa no fim do século XVIII, espalharam-se pelo mundo por meio dos artistas franceses. A liberdade conquistada na Revolução Francesa teve influência determinante nas características do movimento. Era a libertação da poética neoclássica e a passagem para uma linguagem mais espontânea, carregada de emoções.
Foi com Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, que nasceu o Romantismo no Brasil, em 1836. Seus autores expressavam, no plano literário, a busca por uma identidade nacional, num país que se tornara formalmente independente de Portugal pouco tempo antes.
Entre as principais características do Romantismo estão: subjetivismo, valorização das emoções e das paixões, liberdade de criação, desejo de igualdade e nacionalismo. Um de seus principais escritores foi José de Alencar, autor de Iracema, O Guarani, Senhora e Lucíola.
A poesia romântica comportou diversos temas. Inicialmente, era forte a vertente nacionalista ou indianista. Os principais escritores desse período foram Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias, considerado o primeiro grande poeta do Romantismo no país. Destacam-se a exaltação à natureza, o sentimentalismo, a representação da figura do índio como um ser idealizado e o nacionalismo.
A poesia considerada ultrarromântica é representada por autores como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela. As obras ainda eram carregadas de sentimentalismo, mas tinham elementos diferentes, como a exaltação do “eu” e temas como morte, tristeza e solidão.
A adesão ao movimento pela abolição dos escravos de muitos escritores românticos deu origem ao movimento condoreiro, influenciado pela poesia social do francês Victor Hugo. Destaca-se o baiano Castro Alves. O nome condoreiro vem de condor, pássaro de voo mais alto das Américas, que era o símbolo do movimento, pois dava a ideia de grandiosidade.

CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM ROMÂNTICA

Individualismo: Os românticos libertam-se da necessidade de seguir formas reais de intuito humano, abrindo espaço para a manifestação da individualidade, muitas vezes definida por emoções e sentimentos.

Subjetivismo: O romancista trata dos assuntos de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre o mundo. O subjetivismo pode ser notado através do uso de verbos na primeira pessoa. Trata-se sempre de uma opinião parcelada, dada por um individuo que baseia sua perspectiva naquilo que as suas sensações captam. Com plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra. O eu é o foco principal do subjetivismo, o eu é egoísta na forma de expressar seus sentimentos.

Idealização: Empolgado pela imaginação, o autor idealiza temas, exagerando em algumas de suas características. Dessa forma, a mulher é uma virgem frágil, o índio é um herói nacional, e a pátria sempre perfeita. Essa característica é marcada por descrições minuciosas e muitos adjetivos.

Sentimentalismo exacerbado: Praticamente todos os poemas românticos apresentam sentimentalismo, já que essa escola literária é movida através da emoção, sendo as mais comuns a saudade, a tristeza e a desilusão. Os poemas expressam o sentimento do poeta, suas emoções, e são como o relato sobre uma vida. O romântico analisa e expressa a realidade por meio dos sentimentos. E acredita que só sentimentalmente se consegue traduzir aquilo que ocorre no interior do indivíduo relatado. A emoção está acima de tudo.

Egocentrismo: Como o nome já diz, é a colocação do ego no centro de tudo. Vários artistas românticos colocam, em seus poemas e textos, os seus sentimentos acima de tudo, destacando-os na obra. Pode-se dizer, talvez, que o egocentrismo é um subjetivismo exagerado.

Natureza interagindo com o eu lírico: A natureza, no Romantismo, expressa aquilo que o eu-lírico está sentindo no momento narrado. A natureza pode estar presente desde as estações do ano, como formas de passagens, à tempestades, ou dias de muito sol. Diferentemente do Arcadismo, por exemplo, em que a natureza é mera paisagem, no Romantismo a natureza interage com o eu-lírico. A natureza funciona quase como a expressão mais pura do estado de espírito do poeta.

União do Grotesco e do Sublime: Há a fusão do belo e do feio, diferentemente do arcadismo, que visava à idealização do personagem principal, tornando-o a imagem da perfeição. Como exemplo, temos o conto de A Bela e a Fera, no qual uma jovem idealizada, se apaixona por uma criatura horrenda.

Medievalismo: Alguns românticos se interessavam pela origem de seu povo, de sua língua e de seu próprio país. Na Europa, eles acharam no cavaleiro fiel à pátria um ótimo modo de retratar as origens de seu país. Esses poemas se passam em eras medievais e retratavam grandes guerras e batalhas.

Indianismo: É o medievalismo "adaptado" ao Brasil. Como os brasileiros não tinham um cavaleiro para idealizar, os escritores adotaram o índio como o ícone para a origem nacional e o colocam como um herói. O indianismo resgatava o ideal do "bom selvagem" (Jean-Jacques Rousseau), segundo o qual a sociedade corrompe o homem e o homem perfeito seria o índio, que não tinha nenhum contato com a sociedade europeia.

Byronismo: Inspirado na vida e na obra de Lord Byron, poeta inglês. Estilo de vida boêmio, voltado para vícios, bebida, fumo e sexo, podendo estar representado no personagem ou na própria vida do autor romântico. O byronismo é caracterizado pelo narcisismo, pelo egocentrismo, pelo pessimismo, pela angústia.


Abaixo você confere um episódio do seriado "Tudo que é sólido pode derreter", da TV Cultura, que tem como tema o conto "Macário", do escritor romântico brasileiro Álvares de Azevedo. Esse seriado sempre adapta obras literárias como pano de fundo para sua narrativa, o que o torna extremamente interessante, além de um ótimo exercício para a observação do fenômeno na intertextualidade. Aproveitem!




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