segunda-feira, 20 de junho de 2011

CRÔNICA: "LIXO", DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO


 Encontram-se na área de serviço. Cada um com o seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia.
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é ...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo ...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena.
- Na verdade sou só eu.
- Humm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar .
- Entendo.
- A senhora também .
- Me chama de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim.
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas como moro sozinha, às vezes sobra.
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é ...
- No outro dia, tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei, mas tenho visto uns vidrinhos de comprimidos no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos.
- É que estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo,decidi que gostaria de conhecê-la . Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmos, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler ...
- Só não fiquei com ele porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através dos lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão!
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha...
- Nada! Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?

(Luis Fernando Veríssimo)

CHARLIE BROWN E A ETERNA GAROTINHA RUIVA - AMOR PLATÔNICO GANHA ESPAÇO ATÉ NOS QUADRINHOS!

 
Assunto bastante caro à produção literária de todos os tempos, o amor platônico não encontrou espaço apenas entre os grandes nomes da literatura. Ao contrário: outras formas de arte se incumbiram de lhe pagar tributo e o reverenciar das mais divertidas e poéticas formas, sempre mexendo com os nossos sonhos mais íntimos e nos instigando a imaginação que, afinal de contas, pode não querer, de fato, dar rosto, forma, CIC e RG ao ser amado, mas tão somente cultuá-lo num plano bem distinto do imediato concreto.
A matéria abaixo é um belíssimo exemplo disso: Alexandre Inagaki nos fala como a clássica "garotinha ruiva", musa eterna do não menos ilustre Charlie Brown, nos quadrinhos do talentosíssimo Charles Schulz, constitui-se na mais pura e cândida representação do amor platônico na esfera das histórias em quadrinhos. Vale a pena acompanhar e se divertir com a bem fundamentada reflexão do autor.
Acrescentei alguns vídeos e imagens para ilustrar com maior riqueza a matéria e, de quebra, promover a sempre bem-vinda e saudosista viagem no tempo.
Aproveitem!

Prof. Daniel Vícola


De todas as criações de Charles Schulz, nenhuma me foi tão marcante quanto a garotinha ruiva, símbolo-mor de todos os amores idílicos e nunca concretizados.
Pobre Charlie Brown. Todos nós sentimos compaixão por ele, porque ele simboliza todas as nossas frustrações, inseguranças e fracassos na vida. O que dizer de alguém que não recebeu um cartão sequer no Dia dos Namorados, jamais conseguiu fazer voar uma pipa, porque todas enganchavam em alguma árvore, nunca ganhou um jogo de beisebol (e nem chutar as bolas seguradas pela Lucy!) e, principalmente, jamais teve coragem para falar com a garotinha ruiva e confessar o seu amor?
Questiona Charlie em uma das tiras dos Peanuts: "Mas o amor não existe para fazer a gente feliz?" Nem sempre, Minduim, nem sempre. Que o digam as angústias caladas, os sentimentos represados, as inseguranças que atormentam uma pessoa enredada pelo vórtice da paixão. Tal como na Quadrilha, de Drummond, os personagens de Schulz sofrem com amores não-correspondidos. Sally ama Linus que ama sua professora; Lucy ama Schroeder que ama Beethoven; Patty Pimentinha ama Charlie Brown que ama a garotinha ruiva. E, assim como Linus aguarda em vão pela chegada da Grande Abóbora (nos mesmos moldes da espera de Estragon e Wladimir por Godot), a turma do Snoopy ama infrutiferamente. Nós, que somos leitores e espectadores voyeurs da obra de Schulz, rimos com suas histórias. E, no entanto, esse riso é banhado por melancolia, porque todos nós já tivemos um momento Charlie Brown em algum instante de nossas vidas.


Quem acompanhou as histórias de Snoopy e sua turma através dos desenhos exibidos todo domingo à noite no SBT pode me questionar: "Ué, mas Charlie não chegou a beijar a garotinha ruiva uma vez?" Sim: foi no especial para a TV "It's Your First Kiss, Charlie Brown", produzido em 1977. Contudo, vale a pena ressaltar que ela jamais foi mostrada em uma tira sequer (a não ser por meio de menções feitas por outros personagens), e que sua aparição no desenho animado foi realizada à revelia de Schulz. A propósito, os produtores do programa deram até mesmo um nome para a garotinha ruiva: Heather.
Para os puristas (incluo-me entre eles), essa aparição é apócrifa e completamente oposta ao espírito original da personagem. Afinal de contas, como nomear ou dar face ao Mistério? Porque a garotinha ruiva nada mais é do que a metáfora daquele amor idílico que perseguimos na juventude: aquele amor que jamais terá rugas ou saldo negativo no banco, que nunca pendurará calcinhas no chuveiro ou esquecerá de levantar a tampa do vaso sanitário, e que permanecerá para sempre imaculado e perfeito em nossos sonhos platônicos.

Por: Alexandre Inagaki

CONTO: "TENTAÇÃO", DE CLARICE LISPECTOR


Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente da sua dona, arrastando o seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo. Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes do Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

(Clarice Lispector. in "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998).

FALANDO SOBRE LITERATURA: O ROMANTISMO

Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa que perdurou por grande parte do século XIX. Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo que marcou o período neoclássico e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa.


Cada romance, conto ou poema é uma criação artística única, que expressa a subjetividade de seu autor. Mas conhecer os movimentos literários a que estão ligados os escritores permite ampliar a compreensão sobre seus livros
Ler os livros de bons autores é, além de um grande prazer, indispensável para conhecer a literatura de qualquer país. As resenhas e os comentários de obras brasileiras e portuguesas, presentes na internet, auxiliam o entendimento sobre o significado das criações, mas não dispensam sua leitura.
Qualquer obra de arte pode ser considerada única, pois expressa a subjetividade de seu autor. Mas, para ampliar a compreensão do significado e do alcance de romances, contos ou poemas, é necessário também levar em conta que as obras surgem em determinada situação histórica e estão impregnadas pelo ambiente social, econômico e político em que vive ou viveu seu criador. Podem ser encontrados traços comuns em diferentes obras, de escritores diversos, provenientes do mesmo período.
É por isso que os estudiosos dividem as obras de acordo com as escolas literárias nas quais elas podem ser inseridas. Além de facilitar o aprendizado das modificações da cultura no decorrer dos séculos, essa divisão em períodos pode acrescentar novos elementos à compreensão de cada livro em particular.

INÍCIO DA LITERATURA BRASILEIRA

No Brasil, colônia de Portugal entre o século XVI e o início do XIX, as primeiras criações literárias são consideradas parte da literatura portuguesa. O professor Antonio Candido, um dos mais respeitados estudiosos do país, considera que a literatura nacional teve início de fato no século XVIII, com o arcadismo, movimento que exaltava ideais neoclássicos, inspirados na Antiguidade greco-romana.
É claro que, antes disso, foram escritos muitos textos literários no Brasil, mas eram manifestações esparsas e limitadas, sem que houvesse uma sistemática atividade que envolvesse criadores e seu público. Isso só começou com os poetas árcades.


Com o Romantismo, desenvolve-se e amplia-se a criação literária nacional. Os ideais românticos, nascidos na Europa no fim do século XVIII, espalharam-se pelo mundo por meio dos artistas franceses. A liberdade conquistada na Revolução Francesa teve influência determinante nas características do movimento. Era a libertação da poética neoclássica e a passagem para uma linguagem mais espontânea, carregada de emoções.
Foi com Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, que nasceu o Romantismo no Brasil, em 1836. Seus autores expressavam, no plano literário, a busca por uma identidade nacional, num país que se tornara formalmente independente de Portugal pouco tempo antes.
Entre as principais características do Romantismo estão: subjetivismo, valorização das emoções e das paixões, liberdade de criação, desejo de igualdade e nacionalismo. Um de seus principais escritores foi José de Alencar, autor de Iracema, O Guarani, Senhora e Lucíola.
A poesia romântica comportou diversos temas. Inicialmente, era forte a vertente nacionalista ou indianista. Os principais escritores desse período foram Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias, considerado o primeiro grande poeta do Romantismo no país. Destacam-se a exaltação à natureza, o sentimentalismo, a representação da figura do índio como um ser idealizado e o nacionalismo.
A poesia considerada ultrarromântica é representada por autores como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela. As obras ainda eram carregadas de sentimentalismo, mas tinham elementos diferentes, como a exaltação do “eu” e temas como morte, tristeza e solidão.
A adesão ao movimento pela abolição dos escravos de muitos escritores românticos deu origem ao movimento condoreiro, influenciado pela poesia social do francês Victor Hugo. Destaca-se o baiano Castro Alves. O nome condoreiro vem de condor, pássaro de voo mais alto das Américas, que era o símbolo do movimento, pois dava a ideia de grandiosidade.

CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM ROMÂNTICA

Individualismo: Os românticos libertam-se da necessidade de seguir formas reais de intuito humano, abrindo espaço para a manifestação da individualidade, muitas vezes definida por emoções e sentimentos.

Subjetivismo: O romancista trata dos assuntos de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre o mundo. O subjetivismo pode ser notado através do uso de verbos na primeira pessoa. Trata-se sempre de uma opinião parcelada, dada por um individuo que baseia sua perspectiva naquilo que as suas sensações captam. Com plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra. O eu é o foco principal do subjetivismo, o eu é egoísta na forma de expressar seus sentimentos.

Idealização: Empolgado pela imaginação, o autor idealiza temas, exagerando em algumas de suas características. Dessa forma, a mulher é uma virgem frágil, o índio é um herói nacional, e a pátria sempre perfeita. Essa característica é marcada por descrições minuciosas e muitos adjetivos.

Sentimentalismo exacerbado: Praticamente todos os poemas românticos apresentam sentimentalismo, já que essa escola literária é movida através da emoção, sendo as mais comuns a saudade, a tristeza e a desilusão. Os poemas expressam o sentimento do poeta, suas emoções, e são como o relato sobre uma vida. O romântico analisa e expressa a realidade por meio dos sentimentos. E acredita que só sentimentalmente se consegue traduzir aquilo que ocorre no interior do indivíduo relatado. A emoção está acima de tudo.

Egocentrismo: Como o nome já diz, é a colocação do ego no centro de tudo. Vários artistas românticos colocam, em seus poemas e textos, os seus sentimentos acima de tudo, destacando-os na obra. Pode-se dizer, talvez, que o egocentrismo é um subjetivismo exagerado.

Natureza interagindo com o eu lírico: A natureza, no Romantismo, expressa aquilo que o eu-lírico está sentindo no momento narrado. A natureza pode estar presente desde as estações do ano, como formas de passagens, à tempestades, ou dias de muito sol. Diferentemente do Arcadismo, por exemplo, em que a natureza é mera paisagem, no Romantismo a natureza interage com o eu-lírico. A natureza funciona quase como a expressão mais pura do estado de espírito do poeta.

União do Grotesco e do Sublime: Há a fusão do belo e do feio, diferentemente do arcadismo, que visava à idealização do personagem principal, tornando-o a imagem da perfeição. Como exemplo, temos o conto de A Bela e a Fera, no qual uma jovem idealizada, se apaixona por uma criatura horrenda.

Medievalismo: Alguns românticos se interessavam pela origem de seu povo, de sua língua e de seu próprio país. Na Europa, eles acharam no cavaleiro fiel à pátria um ótimo modo de retratar as origens de seu país. Esses poemas se passam em eras medievais e retratavam grandes guerras e batalhas.

Indianismo: É o medievalismo "adaptado" ao Brasil. Como os brasileiros não tinham um cavaleiro para idealizar, os escritores adotaram o índio como o ícone para a origem nacional e o colocam como um herói. O indianismo resgatava o ideal do "bom selvagem" (Jean-Jacques Rousseau), segundo o qual a sociedade corrompe o homem e o homem perfeito seria o índio, que não tinha nenhum contato com a sociedade europeia.

Byronismo: Inspirado na vida e na obra de Lord Byron, poeta inglês. Estilo de vida boêmio, voltado para vícios, bebida, fumo e sexo, podendo estar representado no personagem ou na própria vida do autor romântico. O byronismo é caracterizado pelo narcisismo, pelo egocentrismo, pelo pessimismo, pela angústia.


Abaixo você confere um episódio do seriado "Tudo que é sólido pode derreter", da TV Cultura, que tem como tema o conto "Macário", do escritor romântico brasileiro Álvares de Azevedo. Esse seriado sempre adapta obras literárias como pano de fundo para sua narrativa, o que o torna extremamente interessante, além de um ótimo exercício para a observação do fenômeno na intertextualidade. Aproveitem!




LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUA TECNOLOGIA NO ENEM 2010

 Análise de diferentes tipos de texto é foco da prova.

ANÁLISE DA PROVA DE 2010, DA ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS

Em conformidade com a proposta do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as questões de múltipla escolha de Linguagens, códigos e suas tecnologias promoveram a interdisciplinaridade, trataram de temas de relevância social e importantes para o jovem (veja lista abaixo) e também relacionaram formas diversas de linguagem, como pintura, literatura, cartum e anúncio publicitário. Seguindo a proposta do exame, destaca-se o uso dos diferentes recursos de linguagem e seus mecanismos de construção de sentido nos mais variados campos do conhecimento, além de situações de interação social.
Percebe-se também a ênfase em funções da linguagem, variedade linguística, marcas argumentativas em diferentes gêneros textuais, relação entre gênero, linguagem usada e função social do texto, e temáticas relacionadas ao uso de novas tecnologias de comunicação e informação. É importante ressaltar que não apareceu, na edição de 2010, nenhuma questão que fizesse referência explícita à nomenclatura gramatical e às escolas literárias. Já os textos literários apareceram muito fragmentados, o que levou o estudante a uma leitura pouco contextualizada e superficial.
É difícil afirmar categoricamente que determinadas habilidades estejam “em baixa”, uma vez que se trata de um exame com 45 questões – o que limita a possibilidade de abranger todas. Por outro lado, as questões não trataram isoladamente de apenas uma competência ou habilidade da nova matriz. Pela análise da edição de 2010, pode-se dizer que os gêneros e os temas são objetos de estudo desde as séries iniciais do Ensino Fundamental, variando o grau de aprofundamento de acordo com o nível de ensino e a faixa etária dos alunos.

Gêneros e tipos dos textos explorados nos enunciados:

➢ Textos da esfera jornalística: em geral foram apresentados fragmentos de notícias, crônicas jornalísticas, artigos de opinião, trechos de reportagens (em sua maioria de divulgação científica), horóscopo, capa de revista, infográfico/mapa, dicas (texto instrucional de como usar o Twitter) e gráfico.

➢ Texto biográfico: biodados do escritor Machado de Assis.

➢ Textos literários: fragmentos de Clarice Lispector, Jorge Amado, Dalton Trevisan, Machado de Assis, Arnaldo Antunes, João do Rio, Lima Barreto, Álvares de Azevedo e Monteiro Lobato.

Álvares de Azevedo: embora o poema se filie à segunda geração romântica, o tema “A morte” é de caráter universal.
João do Rio e Lima Barreto: tematizam o processo de urbanização do fim do século XIX e do início do século XX. João do Rio trata a rua como espaço de convivência; Lima Barreto, como espaço de exposição.
Jorge Amado e Dalton Trevisan: mostram o espaço urbano como lugar de exclusão social.
Clarice Lispector: retrata a situação de uma mulher de classe popular, com prestações a pagar e preocupações com os filhos. Entretanto, a questão só faz referência à coesão textual.
Monteiro Lobato: condena a sociedade escravagista e o preconceito racial, usando recursos como ironia e sarcasmo.
Machado de Assis: o texto de Quincas Borba tematiza a perda de identidade devido à influência estrangeira, com referência à escravidão.

➢ Letra de canção: trecho de música do grupo Os Tribalistas (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte) em que o neologismo é empregado como recurso poético.

Texto publicitário: anúncio impresso.

➢ Outras linguagens: fotos, mapa, reprodução de pinturas, cartuns.

Há que se fazer uma crítica à fragmentação dos textos – o que, em nossa opinião, empobrece a leitura e contraria os parâmetros do Ministério da Educação e Cultura (MEC) no que se refere às propostas pedagógicas de leitura e compreensão de textos.

Principais temas abordados nos textos de apoio das questões:

➢ Meio ambiente.

➢ Novas tecnologias de comunicação: linguagem, relação entre o público e o privado, democratização e confiabilidade das informações divulgadas na internet. Esse foi o assunto mais focalizado nesta edição do Enem – assim como na anterior, conforme frisou a professora Juliana de Souza Topan em sua análise para o Portal do Sistema UNO de Ensino, em dezembro de 2009: “Nesse sentido, é interessante notar a ênfase às temáticas relacionadas ao uso de novas tecnologias de comunicação e informação – muitas questões mencionavam o papel da web como difusora de cultura e conhecimento (como se houvesse o intuito de despertar a consciência para um maior aproveitamento da internet por parte dos jovens, que majoritariamente a utilizam apenas para entretenimento) e de novos padrões comunicativos proporcionados pela leitura e pela interação em meios eletrônicos”.

➢ Exclusão social.

➢ Saúde: atividade física, compulsão alimentar, tabagismo (fumante passivo).

➢ Questões relativas a gênero: representação do gênero feminino na década de 1940.

➢ Tráfico de drogas: causa/consequência/solução.

➢ Língua, linguagem, variedade linguística.

➢ Sociedade escravocrata.

Redação

Como nos anos anteriores, foi proposto um tema de relevância político-social e interdisciplinar: “O trabalho na construção da dignidade humana”. O trabalho, aliás, é um tema recorrente. Em 2005, a proposta de redação do exame foi “Trabalho infantil no Brasil”. Para subsidiar a produção textual, na edição de 2010 foram apresentados dois textos de apoio, dando ao aluno uma visão global do tema.
O primeiro texto motivador, intitulado “O que é trabalho escravo”, discute que, apesar da assinatura da Lei Áurea, em 1888, o trabalho escravo persiste no Brasil na forma de serviços degradantes que cerceiam a liberdade do trabalhador, especialmente em atividades agropecuárias. Já o segundo, chamado “O futuro do trabalho”, projeta uma realidade otimista para o trabalhador de 2020 (principalmente a mulher), que será valorizado profissionalmente e terá boas condições de vida em um ambiente sustentável. Os examinadores ainda apresentaram uma equação que sintetiza o texto.
Para produzir o texto dissertativo-argumentativo, o aluno foi convidado a confrontar o passado (com o Brasil escravocrata do século XIX), o presente (com as condições degradantes de trabalhadores brasileiros na primeira década do século XXI) e o futuro (com uma projeção do trabalhador inserido em um cenário tecnológico e globalizado do século XXI).
Ele poderia empregar como recurso argumentativo uma experiência pessoal, ilustrando as situações retratadas nos textos motivadores e defendendo seu ponto de vista. Poderia também sugerir propostas de intervenção na realidade, como maior fiscalização, apoio ao pequeno agricultor por meio de crédito e novas tecnologias, criminalização dos empregadores que desrespeitam os direitos humanos e investimento em educação e formação profissional.

Por Graça Sette, professora de Língua Portuguesa e coautora de “Para Ler o Mundo” (6º ao 9º ano e Ensino Médio), editora Scipione; e Márcia Travalha, professora de Língua Portuguesa e coautora de “Para Ler o Mundo” (Ensino Médio), editora Scipione.

terça-feira, 7 de junho de 2011

CONTO: PEQUENAS DISTRAÇÕES

O conto abaixo, de autoria do escritor contemporâneo Gregório Bacic, é um excelente exemplo da contundência e da maestria esperadas desse gênero narrativo que sintetiza vidas e nos revela seus momentos mais alta e amplamente significativos, deixando-nos, como bem diria a loquaz Clarice Lispector, "com o acontecimento nas mãos!"
Aproveitem!

CRÔNICA: UMA CRÔNICA SOBRE O VIVER


Era seu último dia de vida, mas ele ainda não sabia disso.

Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco. Estava cansado porque na noite anterior fora se deitar muito tarde. Também não havia dormido bem. Tinha tido um sono agitado, mas logo abandonou a ideia de ficar um pouco mais na cama e se levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na empresa.
Lavou o rosto e fez a barba correndo, automaticamente. Não prestou atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras, resultado das noites mal dormidas. Nem sequer percebeu um aglomerado de pêlos teimosos que escaparam da lâmina de barbear.
"A vida é uma sequência de dias vazios que precisamos preencher", pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo.
Engoliu o café e saiu resmungando, baixinho, um "bom dia" sem convicção. Desprezou os lábios da esposa, que se ofereciam para um beijo de despedida. Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de uma mulher apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento. Não entendia por que ela se queixava tanto da ausência dele e vivia reivindicando mais tempo pra ficarem juntos. Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não estava? Isso não bastava?
Claro que ele não teve tempo para esquentar o carro nem sorrir quando o cachorro, alegre, abanou o rabo. Deu a partida e acelerou. Ligou o rádio, que tocava uma antiga canção de Roberto Carlos: "detalhes tão pequenos de nós dois..." Pensou que não tinha mais tempo pra curtir detalhes tão pequenos da vida. Anos atrás, gostava de assistir ao programa de Roberto Carlos nas tardes de domingo. Mas isso fazia parte de outra época, quando ele podia se divertir mais.
Pegou o telefone celular e ligou para a filha. Sorriu quando soube que o netinho havia dado os primeiros passos. Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos ele não aparecia para ver o neto e o convidou para almoçar. Ele relutou bastante: sabia que iria gostar muito de estar com o neto mas não podia, naquele dia, dar-se o luxo de sair da empresa. Agradeceu o convite mas respondeu que seria impossível. Quem sabe no próximo final de semana? Ela insistiu, disse que sentia muita saudade e que gostaria de poder estar com ele na hora do almoço mas ele foi irredutível: realmente, era impossível.
Chegou à empresa e mal cumprimentou as pessoas. A agenda estava totalmente lotada e era muito importante começar logo a atender seus compromissos pois tinha a plena convicção de que pessoas de valor não desperdiçam seu tempo com conversa fiada.
No que seria a sua hora de almoço, pediu para a secretária trazer um sanduíche e um refrigerante diet. O colesterol estava alto, precisava fazer um check-up, mas isso ficaria para o mês seguinte. Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da tarde. Nem observou que tipo de sanduíche estava mastigando.
Enquanto relacionava os telefonemas que deveria, sentiu um pouco de tontura, a vista embaçou. Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os mesmos sintomas, de que estava na hora de fazer um check-up. Mas ele logo concluiu que era um mal-estar passageiro que seria resolvido com um café forte sem açúcar.
Terminado o "almoço", escovou os dentes e voltou à sua mesa. "A vida continua", pensou. Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a cumprir.
Saiu para a reunião já meio atrasado. Não esperou o elevador. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus. Parecia que a garagem estava a quilômetros de distância, encravada no miolo da Terra e não no subsolo do prédio. Entrou no carro, deu a partida e, quando ia engatar a primeira marcha, sentiu de novo o mal-estar. Agora havia uma forte dor no peito. O ar começou a faltar... a dor foi aumentando... o carro desapareceu... os outros carros também... os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do teto, tudo foi sumindo diante de seus olhos ao mesmo tempo em que surgiam cenas de um filme que ele conhecia bem. Era como se um filme estivesse rodando em câmara lenta. Quadro a quadro ele via a esposa, o netinho, a filha e, uma após outras, todas as pessoas de que mais gostava.
Por que mesmo não tinha ido almoçar com a filha e o neto? O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo, hoje de manhã? Por que não saiu com os amigos no último feriado? A dor no peito persistia, mas agora uma outra dor começava a perturba-lo: a do arrependimento. Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a da coronária entupida ou a de sua alma se rasgando.
Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração e de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas. Queria viver, queria ter mais uma chance, queria voltar para casa e beijar a esposa, abraçar a filha, brincar com o neto... Queria... Queria... Mas não havia mais tempo.

(Roberto Shinyashiki)

CRÔNICA: A ÚLTIMA CRÔNICA


A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim, um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem, em torno à mesa, a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

(Fernando Sabino)

CRÔNICA: DEZ COISAS QUE LEVEI ANOS PARA APRENDER



1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

(Luís Fernando Veríssimo)