sexta-feira, 14 de outubro de 2011

ENTENDA A NOVA ORTOGRAFIA


 E o fato é simplesmente um: ninguém gosta dela, muitos discordam dela, outros sequer a admitem como acréscimo ou evolução, mas tão simplesmente como um grande e desnecessário quiprocó no universo das letras.
Gostando ou não, o período de convivência entre a norma antiga e as novas regras ortográficas chega ao fim no próximo ano e, como você bem deve saber, está mais do que na hora de ficar por dentro do assunto e, mesmo relutando, tentar entender e colocar em prática as mudanças.
Para ajudá-los nessa ingrata e difícil tarefa, aqui vão alguns sempre bem-vindos (palavra que continua sendo escrita assim, com hífen!) esclarecimentos.

O QUE É O NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA DA LÍNGUA PORTUGUESA?

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi elaborado há 18 anos e só agora sai do papel para ser adotado a partir do ano que vem. O objetivo dessa reforma é sincronizar a ortografia de todos os países que falam português, acabando com as diferenças existentes entre eles.

Esse acordo atinge todos os países da Comunidade de de Países de Língua portuguesa, e já foi ratificado por Brasil, Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Os demais países que ainda não ratificaram o acordo, na teoria, não fazem muita diferença e serão obrigados a usar o nova ortografia, uma vez que basta a assinatura de três integrantes da comunidade para se adotar uma mudança.

No Brasil, a partir de 2009, será adotada a nova ortografia e, entre 2010 e 2012, será o período de transição, onde tanto a ortografia antiga quanto a nova serão aceitas e, a partir de 2012, somente a nova ortografia será aceita.

O QUE MUDA NO BRASIL?

No Brasil, somente 0,6% (aprox) das palavras serão afetadas. Veja abaixo as mudanças:

TREMA
Deixará de existir em todas as palavras (ex: lingüiça será escrito como “linguiça”), com exceção para nome próprios

HÍFEN
Não será mais usado nos seguintes casos:
■Quando o primeiro elemento termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente (Ex: extra-escolar será escrito como “extraescolar”);
■ Quando o segundo elemento começar com r ou s. Nesse caso, a primeira letra do segundo elemento deverá ser duplicada (Ex: anti-social e contra-regra serão escritos como “antissocial” e “contrarregra”);

Outra regra para o hífen é a de incluí-lo onde antes não existia, nos casos em que o primeiro elemento finalizar com a mesma vogal que começa o segundo elemento (ex: microondas e antiinflamatório serão escritos como “micro-ondas” e “anti-inflamatório”.)

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais o acento para diferenciar:
■“pêra” (substantivo - fruta) e “pera” (preposição arcaica)
■“péla” (flexão do verbo pelar) de “pela” (combinação da preposição com o artigo)
■“pára” de “para” (preposição)
■“pêlo” de “pelo” (combinação da preposição com o artigo)“pólo” (substantivo) de “polo” (combinação antiga e popular de “por” e “lo”)

ACENTO CIRCUNFLEXO
Deixará de existir em:
■palavras que terminam com hiato “oo” (Ex: vôo e enjôo serão escritos como “voo” e “enjoo”)
■terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos dar, ler, crer e ver (ex: Lêem, vêem, crêem e dêem serão escritos como “leem”, “veem”, “creem” e “deem”)

ACENTO AGUDO
■Será abolido em palavras terminadas com “eia” e “oia” (ex: idéia e jibóia serão escritos como “ideia” e “jiboia”.
■Nas palavras paroxítonas, com “i” e “u” tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: “feiúra” e “baiúca” passam a ser grafadas “feiura” e “baiuca
■Nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i”. Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem.

ALFABETO
O alfabeto agora contará com as letras “k”, “w” e “y”, somando um total de 26 letras

DUPLA GRAFIA

Apesar de ser um acordo entre os países que falam português, essa reforma ainda permitirá a dupla grafia de palavras que são pronunciadas com entonação diferente em diferentes países.
No Brasil, por exemplo, fenômeno se escreve com acento circunflexo, enquanto em Portugal se usa o acento agudo (fenómeno), e além de escrita de forma diferente é também pronunciada de forma diferente. Em casos como esses, serão aceitas ambas as grafias.

GUIA DA NOVA ORTOGRAFIA

Você pode baixar um guia completo com as novas regras ortográficas, gratuitamente, clicando AQUI.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

FIGURAS DE LINGUAGEM

As figuras de linguagem são o colorido e o artístico da nossa comunicação!

 E os pedidos foram tantos que, reconheço, eu já deveria ter postado algo, aqui, sobre o assunto.
De qualquer forma, segue o resumão sobre as FIGURAS DE LINGUAGEM para ajudar a todos vocês que se preparam para a prova do Enem deste ano! (Tá chegando a hora, heim?! Força total nessa etapa final de sua preparação!)

FIGURAS DE LINGUAGEM

Segundo Mauro Ferreira, a importância em reconhecer figuras de linguagem está no fato de que tal conhecimento, além de auxiliar a compreender melhor os textos literários, deixa-nos mais sensíveis à beleza da linguagem e ao significado simbólico das palavras e dos textos.
Mas o que são figuras de linguagem?
Acompanhe conosco uma breve definição:

Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem, tornando-a mais rica e artisticamente elaborada, demonstrando um conhecimento aguçado dos recursos comunicativos da língua.

METÁFORA

É uma comparação subentendida. A metáfora é uma das figuras de linguagem mais empregadas e, justamente por isso, convém conhecê-la bem e identificar suas ocorrências. Quando nos valemos de uma metáfora, estamos interessados em fazer uma descrição inusitada de alguma coisa ou de alguém, por intermédio de uma comparação que fica apenas subentendida no contexto enunciativo. Repare nos exemplos:

Dois diamantes brilhavam no rosto da bela menina. (diamantes = olhos da menina)
Adalgiza é um docinho! (docinho = perfil gentil e agradável da pessoa em questão)
Essa rua é um verdadeiro deserto. (deserto = característica associada à rua)

COMPARAÇÃO

Como o próprio nome denuncia, há a comparação quando explicitamente comparamos (por meio de marcadores textuais) dois elementos dentro de uma sentença. Observe os exemplos abaixo:

O meu coração está igual a um céu cinzento.
O carro dele é rápido como um avião.

Repare que, nos dois casos, os marcadores textuais (em vermelho) se encarregam de estabelecer, oficialmente, a situação comparativa entre os termos.

Lembre-se: A METÁFORA é uma comparação implícita, enquanto a COMPARAÇÃO é uma comparação explícita!

PROSOPOPEIA

É uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la de PERSONIFICAÇÃO.

O dia sorria com muito entusiasmo para os moradores da pequena aldeia.
O velho Ipê amarelo parecia acenar-lhe, em despedida.

SINESTESIA

Consiste na fusão de impressões sensoriais diferentes. Quando há sinestesia, unimos impressões provenientes de vários órgãos diferentes do sentido para descrever alguma coisa. Observe:

Raquel tinha um semblante amargo, áspero.
Sentia-se, no ar, uma fragrância doce, aveludada.

CATACRESE

É uma metáfora desgastada, tão usual que já não percebemos. Assim, a catacrese é o emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo próprio.

O menino quebrou o braço da poltrona.
A manga da camisa rasgou.

METONÍMIA

É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empregamos:

- O autor pela obra.

Li Clarice Lispector dezenas de vezes. (a obra de Clarice Lispector)

- o continente pelo conteúdo.

O ginásio aplaudiu a seleção. (ginásio está substituindo os torcedores)

- a parte pelo todo.

Vários brasileiros vivem sem teto, ao relento. (teto substitui casa)

- o efeito pela causa.

Suou muito para conseguir a casa própria. (suor substitui o trabalho)

PERÍFRASE

É a designação de um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.

A Veneza Brasileira também é palco de grandes espetáculos. (Veneza Brasileira = Recife)
A Cidade Maravilhosa está tomada pela violência. (Cidade Maravilhosa = Rio de Janeiro)

ANTÍTESE

Consiste no uso de palavras de sentidos opostos.

Nada, com Deus, é tudo.
Tudo, sem Deus, é nada.

EUFEMISMO

Consiste em suavizar palavras ou expressões que são desagradáveis.

Ele não está mais entre nós. (= morrer)
Os homens públicos envergonham o povo. (= políticos)
Chame a moça da limpeza, por favor. (= faxineira)

HIPÉRBOLE

É um exagero intencional com a finalidade de tornar mais expressiva a ideia.

Ela chorou rios de lágrimas pelo antigo noivo, o Atadolfo.
Muitas pessoas morriam de medo do velho do saco.

IRONIA

Consiste na inversão dos sentidos, ou seja, afirmamos o contrário do que pensamos.

Que alunos inteligentes, não sabem nem somar!
Se você gritar mais alto, eu agradeço.

ONOMATOPEIA

Consiste na reprodução ou imitação do som ou voz natural dos seres. Veja:

Com o au-au dos cachorros, os gatos desapareceram.
Miau-miau. – Eram os gatos miando no telhado a noite toda.

ALITERAÇÃO

Consiste na repetição de um determinado som consonantal no início ou interior das palavras.

O rato roeu a roupa do rei de Roma.

ELIPSE

Consiste na omissão de um termo que fica subentendido no contexto, identificado facilmente.

Após a queda, nenhuma fratura. (Não HOUVE nenhuma fratura)

ZEUGMA

Consiste na omissão de um termo já empregado anteriormente.

Ele come carne, eu, verduras. (A segunda aparição do verbo COMER é substituída pela VÍRGULA, que deixa o verbo apenas subentendido.)

PLEONASMO

Consiste na intensificação de um termo através da sua repetição, reforçando seu significado.

A mim, só me resta o desconsolo.

POLISSÍNDETO

É a repetição da conjunção entre as orações de um período ou entre os termos da oração.

Chegamos de viagem e tomamos banho e saímos para dançar.

ASSÍNDETO

Ocorre quando há a ausência da conjunção entre duas orações.

Chegamos de viagem, tomamos banho, depois saímos para dançar.

ANACOLUTO

Consiste numa mudança repentina da construção sintática da frase. Exemplo:

Ele, nada podia assustá-lo.

Nota: o anacoluto ocorre com freqüência na linguagem falada, quando o falante interrompe a frase, abandonando o que havia dito para reconstruí-la novamente.

ANAFÓRA

Consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade. Exemplo:

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro noturno. 
(Fernando Pessoa)

SILEPSE

Ocorre quando a concordância é realizada com a idéia e não sua forma gramatical. Existem três tipos de silepse: gênero, número e pessoa.

De gênero

Exemplo:

Vossa excelência está preocupado com as notícias. (a expressão Vossa Excelência é feminina quanto à forma, mas, nesse exemplo, a concordância se deu com a pessoa a que se refere o pronome de tratamento e não com o sujeito).

De número

Exemplo:

A boiada ficou furiosa com o peão e derrubaram a cerca. (Nesse caso, a concordância se deu com a ideia de plural da palavra boiada).

De pessoa

Exemplo:

As mulheres decidimos não votar em determinado partido até prestarem conta ao povo. (Nesse tipo de silepse, o falante se inclui mentalmente entre os participantes de um sujeito em 3ª pessoa).

Ufa! Essas são, então, algumas das principais figuras de linguagem que você deve estudar e aprender a reconhecer.
Espero que o resumo seja útil a todos e que a preparação continue acontecendo a cada dia, seja em nossos encontros na sala de aula, seja na troca de informações através desse canal virtual.
Meu grande abraço a todos!

Professor Daniel Vícola

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MUDANÇAS NA REDAÇÃO DO ENEM - TOME NOTA!


A prova de redação do Enem tem uma característica que a difere das demais: o candidato deve propor uma solução para um problema apresentado no tema. O que se espera do estudante é informação e criatividade para criar soluções, além de habilidade para defender seu ponto de vista.
Essa peculiaridade exige uma leitura atenta do noticiário para aguçar o poder de crítica, explica Suzete Trovão, coordenadora de língua portuguesa do Colégio QI.

Redação no Enem 2011 terá novas regras

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) anunciou, nesta sexta-feira (30) algumas alterações para a prova de redação do Enem 2011. Houve mudanças nas exigências e também na forma de avaliação do texto. Ao final das notas, a prova de redação tem um peso muito forte.
A partir desta edição do Enem, que será realizada nos dias 22 e 23 de outubro, os candidatos deverão escrever, no mínimo 08 linhas de texto. Até o ano passado, o mínimo exigido era de 11 linhas. Além disso, trechos da pergunta não poderão ser utilizados na redação. Os textos devem ser elaborados na estrutura de uma dissertação-argumentativa. Ou seja, os estudantes apresentam argumentos para comprovar sua tese e oferecem possíveis soluções para o problema apresentado na proposta de redação.
Outra alteração proposta pelo INEP é a mudança no critério de correção da prova. A prova, que vai de zero a mil pontos, será automaticamente corrigida por um supervisor quando a diferença entre as notas dos corretores atingir 300 pontos. Até o ano passado, essa margem de erro deveria atingir os 500 pontos.
Alunos e professores concordam que o treino é a melhor preparação para uma boa redação.
Ele precisa ter informação para poder fazer a intervenção pedida. Mas não bastará ter uma proposta, é preciso saber defendê-la com consistência - observa Suzette.

Desenvolvendo bem o seu texto

Para não cair na armadilha das generalidades, a dica é, no desenvolvimento da redação, saber usar a coletânea de textos apresentada no enunciado, fazendo comparações e observações sobre os fatos ou as estatísticas, por exemplo. Na conclusão, que é o momento de fazer a proposta, dê sugestões concretas. Portanto, se o tema é a importância da leitura, compare hábitos de leitores brasileiros e de outros países, por exemplo, e, na hora de propor, use a criatividade, sugerindo a criação de bibliotecas públicas, intercâmbio de livros, campanhas na mídia de incentivo à leitura via SMS e quantas boas ideias você tiver.
Em relação aos temas, o que se observa é que eles são objetivos e inspirados em fatos da atualidade. São assuntos de abrangência nacional, pois o exame é voltado para candidatos de todo o país. Temas de cunho social são recorrentes também.

Na hora de escrever

NÃO FAÇA períodos muito longos, prefira sempre frases simples, pois elas dão clareza ao texto.
NÃO CRIE estruturas sintáticas incompletas.
NÃO USE marcas de oralidade, como gírias, por exemplo.
NÃO RECORRA a clichês quando fizer sua proposta.
NÃO USE um mesmo argumento repetidas vezes.
DEIXE DE LADO expressões como "eu acho".
JAMAIS desrespeite os direitos humanos.
FAÇA UM ROTEIRO sobre o tema. Ajuda a ter foco na hora de criar a proposta.
PREFIRA um vocabulário simples a palavras rebuscadas.
USE sinônimos para não repetir palavras.
USE a norma culta. Uma das cinco competências da redação avalia o rigor gramatical.
SEJA coerente no texto com a proposta que defenderá.

Fonte: www.ogloboonline.com.br

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

MODERNISMO BRASILEIRO: CLARICE LISPECTOR




Lúcida em excesso

“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”. (Clarice Lispector)

Obras principais:

Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); Laços de família (contos, 1960); A legião estrangeira (contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A hora da estrela (romance, 1977).

Características básicas:

- É a intérprete mais sofisticada da chamada ficção introspectiva.

- Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas e estados interiores das personagens em destaque.

- No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo interior.

- Sua linguagem é excepcionalmente densa e inovadora.

A hora da estrela

Relativa exceção a esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo SM) acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabéia) que vegeta em São Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado, pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela", conforme lhe profetiza uma cartomante, quando, no fim do relato, é atropelada e morta por um automóvel.

Autobiografia:
Clarice Lispector por Clarice Lispector

MODERNISMO BRASILEIRO: JOÃO GUIMARÃES ROSA


Obras principais:

Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites do sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutaméia (contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969).

Caraterísticas básicas:

- A primeira grande inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopéias, inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser resumida assim:
Linguajar sertanejo + Recriação estilística = Linguagem revolucionária

Observe o início de Grande sertão: veredas:

Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara de cachorro.

- O mundo retratado em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem vínculos com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a consciência mítica dos protagonistas. Esta consciência mágica explica o mundo pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam sinais de potências misteriosas e inexplicáveis. À medida que a modernidade urbana /capitalista avança, o mítico tende a ser dissolvido.

- A presença do demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na categoria do realismo mágico.

- Alguns contos de Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga e O burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira margem do rio, de Primeiras estórias.

Grande sertão: veredas

- A temática da "jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste romanace, que se estrutura no jogo dialético do presente e do passado. Assim:

Plano presente:

O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências, Riobaldo formula uma série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a presença real ou fictícia do demônio, etc.

Plano passado:

Focaliza as experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo sertão mineiro. Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e historicamente falando. Numa espécie de "banalidade do mal", os bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o "sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no narrador o processo amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio, o sangue e a perfídia.
Não esqueça: A obra de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro –ultrapassa pela linguagem revolucionária e pela indagação a respeito da questões fundamentais do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.

LITERATURA: A TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA NA POESIA


A Geração de 1945

Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo clima de euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano as preocupações políticas, ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do texto tornam-se o objetivo básico desta geração, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.

A POESIA

1) JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998)

Obras principais:

Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950); Morte e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).

- Sua obra se articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida como esforço em busca da síntese, do despojamento total. Sua poesia é lenta e sofrida pesquisa de expressão:

"Não a forma encontrada
como uma concha perdida (...)
mas a forma atingida
como a ponta do novelo
que a atenção, lenta, desenrola (...)"

- Os primeiros textos de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição) iniciam a aventura da expressão mínima e contida.

- Em O cão sem pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe, com sua sujeira, seus detritos e com a população miserável que lhe habita as margens, trágico espelho do subdesenvolvimento:

"Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa no rio
onde a terra começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem."

MORTE E VIDA SEVERINA

A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal pernambucano. Aqui a técnica despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migração apenas a morte. Severino continua seu roteiro até chegar ao Recife. Lá percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notícia do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai visitá-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência de todos os "severinos" do Nordeste.

E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida (...)
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

2. A POESIA CONCRETA
(Décio Pignatari)

- A partir de 1952, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação da chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres.

- Reação contra a lírica discursiva e frequentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta procura se filiar às experiências mais ousadas das vanguardas dos século XX. Ela poderia ser sintetizada assim:

a) linguagem sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial;

b) valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões na página;

c) o poema ganha o espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto:

d) utilização de recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.

ovo
novelo
novo no velho
o filho em folhos
na jaula dos joelhos
infante em fonte
feto feito
dentro do
centro
3. FERREIRA GULLAR


Obras principais: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976)

- Iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta.

-Após romper com os concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da época, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes, excessivamente politizada e prosaica.

- A publicação de Poema sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e formais. Poema sujo é uma espécie de síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experiências vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas angústias e esperanças, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia "suja" com os resíduos da realidade.

- Em Poema sujo, as ideias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se. tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em meio às primeiras crises da ditadura militar.

Clique AQUI e leia alguns poemas concretos de Ferreira Gullar.

LITERATURA: A TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA NO BRASIL


"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto – e o mundo não está à tona." (Clarice Lispector)

"Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar. Viver é muito perigoso..." (Guimarães Rosa)

A Terceira Fase do Modernismo constitui a Geração de 45, cuja prosa apresenta uma diversidade grande de temas e de linguagem. Todavia, os romances e os contos de dois autores sobrepujam, sobremaneira, os dos outros autores brasileiros que fizeram literatura a partir dos anos 40 até hoje: Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
Apesar das profundas diferenças da obra de cada um, Guimarães Rosa e Clarice Lispector apresentam posturas comuns como a insubordinação aos processos romanescos de até então (não seguiram o romance regionalista, o urbano e o psicológico da época) e a constante pesquisa com a linguagem. Por essas razões, ambos são chamados de instrumentalistas, o que significa dizer que se preocupavam muito com o trabalho, isto é, com a melhor elaboração de seus respectivos textos. Além disso, há nesses dois escritores um interesse de universalizar o romance brasileiro, um procedimento bem claro na sondagem do mundo interior das personagens. A diferença mais evidente entre ambos é que em Guimarães Rosa existe ainda a manutenção do enredo com suspense, ao passo que em Clarice Lispector aparece o abandono claro do enredo referencial narrativo e o mergulho nas profundezas da alma de personagens isolados e problemáticos.